domingo, 13 de outubro de 2013

um grito num domingo

(07 de abril de 2013)

e um grito silencioso abriu suas asas, levantou voo e escureceu o céu;
as asas choram penas de sangue, que coagulam os desesperados pelo chão, se arrastando a qualquer lugar, qualquer lata de lixo, jornal de ontem, qualquer marquise apodrecida, procurando abrigo;
e nuvens segurando o pranto fazem deste céu a tragédia;
fisgando seus órgãos, músculos inseguros puxam as fibras tensionadas, com as veias expostas e bem vistas, bem formadas, remoídas pela pele que sente o rasgar do vento frio e da imagem de catástrofe que lhe queima a normalidade das estéticas;
O grito voa como um pássaro esplendoroso, universal, onipotente, de olhos nublados, pulsantes; os dedos encolhidos, sem boca, sem lágrimas, sem suor, com seus cabelos embaçados e que mal podiam ser vistos sem uma confusão invariável e irritante; os cabelos se faziam de uma nebulosa marrom acinzentada.
O grito sobrevoa lentamente, em suas grandezas elementares, como quem impõe de súbito o medo, o quieto desespero e a segura tensão;
as nuvens, espumas antes escarlates escurecidas agora cinzas, negras e pálidas, flutuantes, tão firmes nos sobrepostos são o fundo perfeito ao terror e distúrbio do momento.
Num domingo qualquer, da janela que se abriu, se sentiu o menino em conflito e se perdeu no olhar perdido em busca de inalcançáveis;
da janela aberta, espreita os segundos ao fitar a cidade,
sem a atenção da paisagem violenta e calma, turva
se viu o grito silenciado, se percebeu a violência de teu estado,
e voltou-se o menino ao seu domingo, como os outros domingos,
e como os outros domingos, voltou-se o menino ao seu quarto

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