segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

almejo

(trama para carnaval)
Na rua o cortejo
Na esquina o festejo
No festeiro o baculejo
Na alegria o bosquejo
Na memória o malfazejo
Na embriaguês o lampejo
No bem amado o realejo
No mal amado o pejo
Na casa no vilarejo
No banheiro o azulejo
Na roupa o percevejo
Na cama o sacolejo
No beijo o ensejo
No debruçar o gracejo
No apertar o relampejo
No entregar a andarejo
Na garganta o gorgolejo
No suor o rio Tejo
No seca-boca o grugulejo
No unha-carne o traquejo
Na trama-cama o sobejo
No treme-perna o bocejo
No poro-aberto o arejo...

domingo, 8 de dezembro de 2013

da trama praiana

Tá rolando churrasco lá em baixo
Cá em cima novela, no máximo;
Só que daqui, da varanda, fechado
Se busco novela não acho;
Se busco churrasco, lá em baixo,
Se faço poesia, faço:
Poesia sobre churrasco.

Cabo Frio, 08/12/2013

pernilongo

Pernilongo filho da puta
Que a mim meu sangue suga
Hei de matá-lo por dentro:
Meu sangue sendo a ti o veneno
Meu sangue queimando teu ventre
Meu soco que a ti de repente
Lhe subtrai a meu sangue somente.

Cabo Frio, 08/10/2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

a dialética

Ainda bem que existe a vida
para distrair da morte,
Que existe a vida
em contravenção à morte,
Que existe a vida,
o próprio invés da morte,
E pena que existe a vida
- quase - apenas para que se exista a morte,
E que exista a vida
para que depois só a morte exista;
Mas ainda bem que existe a vida
para que, antes da morte, viva.

domingo, 1 de dezembro de 2013

é que ela não tem meio termo

Os mortos hoje não têm hoje
o susto, o riso,
o retrato, o canto,
estão num canto,
num algum carregado
lugar, onde carregados
chegaram e hão de ficar
deitados, onde hão de
estar...

os mortos hoje não têm hoje
fome, frio,
apreensão, arrepio,
nome, apenas o nome
cravado num quarto
de quartzo, ou num
fraco corpo que treme
nalguma lembrança
esmaecida...

os mortos hoje não têm hoje
a sujeira, a lembrança,
as cartas, as seringas
e as filas e os suores,
as glândulas frias
de febre, os odores,
o sono e a companhia
para dormir...

os mortos hoje não têm hoje
o hoje, a garganta
o engasgo com a saliva
ou com a saudade,
a saliva e a saudade
propriamente ditas
o sangue quente nas gengivas,
a perna suja de poeira...

os mortos hoje não têm hoje
o próprio hoje
como a própria a vida,
os mortos hoje não têm hoje
nem a morte, nem nenhuma
certeza,
por isso a morte é a maior
tristeza,
por isso a morte é a maior ferida,
a eterna que dói em minha cabeça,
o eterno corte que não cicatriza,
o eterno tudo que não é vida...

os mortos hoje não têm hoje
e nem nunca terão mais

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

marília

Marília,
seu sorriso de perfume doce,
branco, liso,
resvala em minha afeição
como um pano de cetim envolto numa pérola...
e assim escorrega, lustra,
se desliza em meu olhar que nega, se esquiva
e se entrega sem pensar
à maciez de sua pele em teus momentos de perdida,
quando te pego entregue ao ar,
quando te tens despercebida...

E és tão bonita.. tão pura,
que até as plumas da mais bela fantasia
invejam tuas doçuras, teus encantos de Marília;

Ah, Marília,
sou apenas balbuciar-te,
sonhar-te, querer-te
e ansiar demasiado a tua atenção desvairada,
louca e perdida
em meu amor que a noite te cobre...
Se de ti tivesses eu
teu coração, teus calafrios,
arrepios de beijos meus,
teus gemidos, dedos tremidos
arranhando-me até o fim,
encontrado me encontraria
em um olhar que se perderia
de amor e paixão por mim...

domingo, 13 de outubro de 2013

os gatos negros

I

entre as gretas da alvenaria
a luz do sol vai deixando
os cômodos do barracão;
em nome da noite furta-se o dia,
lâmpadas trêmulas vão pintando
o chão de terra da ocupação.

luz amarela que ilumina,
que nos trás canções noturnas
quando a lua se apresenta,
treme, pisca, mantém-se viva,
faz de faces, casas, ruas,
sucursais de sua presença;

nas ruas, casas, tantas delas;
na praça as lâmpadas colorem
e ascendem a Mangueira.
tantas crianças sobem nela,
trepam, brincam, quebram, correm
reinventando brincadeiras;

ali parado despercebido
sob o céu que não acaba
camuflado em vasto escuro,
vejo meninas e meninos
fazendo dessa simples praça
vosso iluminado mundo;

e caminho sem destino
rumo a qualquer lugar que for
pelas ruas mais distantes;
escurece-se o caminho,
me emociono com o esplendor
das estrelas cintilantes;

Nos céus, as estrelas,
por aqui, na ocupação,
nossas lâmpadas resistentes;
E assim, noites inteiras
tingidas de iluminação
abençoam nossa gente.

Finda o poente, anoitece
Essas casas se iluminam
e aquecem corações;
Corações que se aquecem
de luzes que sempre pintam
adormecidos barracões.

O derradeiro ocaso
dos instantes de inspirar
no espreitar da madrugada,
surge junto ao cansaço,
no deitar, se descançar,
no apagar a luz cansada.

II

Lâmpadas da Ocupação,
Oh lampadas de luta,
Que iluminam nosso chão
E nossa alma nua!

de luz que é só sua,
amarela que só ela,
De luta, de labuta,
pinta o chão de nossa terra!

Humildes casas se aquecem
que aquecem corações,
tais quais que adormecem
em 'luminados barracões!

Tais quais iluminados
por lutar por moradia,
revolucionários
são, de fato, todo dia!

a chuva é feito samba

(17 de setembro de 2013)

a chuva é feito o samba,
feito o samba de canção,
o samba triste de amor,
feito o samba recitado;

a chuva é feito o samba,
se desmancha em solidão;
feito o samba de dar dor,
feito o samba acalentado.

A lágrima de um samba
é o dilúvio de verão,
que escurece nossa fauna
e umedece a natureza;

o canto que encanta
numa trêmula canção,
igualmente nutre a alma
duma planta de tristeza.

Feito árvore me encharco,
me estremeço e suplico
chuvas mil a desaguar,
chuvas mil a abençoar;

feito todos os teus galhos
ergo os braços, reivindico
sambas mil para cantar,
sambas mil para chorar.

A chuva é feita de samba.

da juventude

(17 de setembro de 2013)

Choro e canto com vontade
pelos cantos da cidade;
luta, política, vida e arte,
eu vos amo de verdade.

E choro e canto minha saudade
quando corre-me a idade;
samba, chôro, rir faz parte,
minha eterna mocidade.

do escritório II

(06 de setembro de 2013)

E o céu cinza era visto,
pela porta aberta
fugia da detenção
que se fazia em uma
sala trancada;

O céu
aproveitara a deixa
para fitar-me, imenso
frio, inspirador,
maravilhoso e nostálgico
lá por fora,
entretanto tímido,
num canto limitador
estreito e pequeno
por detrás da porta;

mas era o suficiente!
O Céu envolvente
me envolvia e me vibrava,

vê-lo todo assim, p'ra mim,
da mesa em que eu estava
posta frente à porta
entre-aberta para o escape
da prisão como rotina
- Minha maldita sala! -,
evolava maviosamente minh'alma,
feito um sorriso levantado
no canto de boca de um apaixonado
bem no instante que vê tua amada;

e fostes um borbulhar minha manhã
de bem-vindouras inspirações
pelo deleite da deixa eventual
que me surgia rente à tranquilidade
que repousava na distante imagem
do horizonte acinzentado matinal;

e fostes um alvoroço,
rebuliços instantâneos!
mas não tão intensos,
devido ao sonolento ritmo
que inda cambaleava minha
existência no nascer da manhã;

devido à inda virgindade
do retomar a vida da alma
e começar a viver no novo dia,
tais embrulhadas sinuosas
eram apenas serenes alegrias
e encantos com o dia que nascia
sob o céu, pintado de cores sóbrias
e até sombrias derivadas do cinza;

Ah, me entupia de afetos a cuca!
Me sentia um poeta a alguma altura,
seja qual fosse, de quem fosse!

Era uma sensibilidade sem fim!

Mas, cruel e amargamente,
o (en)canto estreito e divino
encontrado pela porta aberta
fostes sumariamente fechado,
selado, trancado;

Ouviu-se o fechar da porta,
viu-se o cinza da maçaneta trancar
o cinza do céu lá fora;

[Trancavam-me em (ao) meu labor!]

E o horizonte que se despia
e se fazia em possibilidades
de novas poesias
que viriam se entranhar
na alma do poeta, agora,
em um desmanche fúnebre
havia sido assassinado
e deixado órfãs
todas as tuas volúpias matutinas,
ao descuido e descaso
do acaso perdido;

E fostes de repetente,
num instante, de supetão
que mataram tua alegria,
que cortaram o laço
entre o poeta e a vida.

Selastes a morte da vida.
Afinal, poetas morrem e renascem
todos os dias.
O que é o poeta a não ser uma luz
em serviço de suas inspirações?
O que é uma luz a não ser um feixe sinistro,
imponente, conhecido, necessário e misterioso,
mas passível de ter tua dispersão luminosa
retida ao ter em teu caminho um obstáculo,
qualquer que este seja, qualquer este que fosse,
bastasse apenas que fosse um obstáculo?
E o que são inspirações,
a não ser quentura e claridade enternecedoras
de um feixe de luz, seja simples feito um fio
de luz que vaza numa fechadura duma porta cinza,
ou colossal e astrológico feito os raios solares,
mesmo escondidos por detrás de um céu cinza?
O que não são as inspirações dos poetas
a não ser o aquecer a alma de luzes vindas
de todos os cantos para todos os outros tantos cantos
que amaciam espírito e pele de nossa gente?

Sim,
selastes a morte da vida.
Selastes a morte do poeta.

E morriam
as aves que poderiam
surgir da paisagem que invadia
o escritório,
planando pela imaginação
que se fazia fértil para
inundações epidêmicas de flores
numa instantânea primavera;

morriam todas essas tramas e peças
pelas odiosas portas
que se fecharam e distanciaram
a inspiração da poesia
do dia morto do poeta.

E tornava-se, portanto,
morto o poeta:
trabalhando,
respirando,
se mordendo,
estapeando,
sobrevivendo,
revirando
os olhos mortos
de poeta.

do escritório I

(06 de setembro de 2013)

o homem há muito vivo
num instante reduzido
se espanta com teu tempo;

qual é a dessa correria,
que atravessas tua vida
tantos anos feito vento?

se indagas perturbado,
qual serias teu legado
deixado por teu viver?

se deparas com o lastro
desguarnecido, desabitado:
vivestes pra não morrer;

e atormentado, angustiado,
se espantas com o fato
de se perder no se buscar,

perdeu o tempo e a memória
já não sabes tua história
quando ousa recordar;

e só recordas de tua hora
voando às pressas e agora
se estremece com o atraso:

teu escritório lhe sufoca
criva o peito, o homem chora
pois esvai-se teu legado.

não há tempo, há um prazo
e teus tempos, prazos razos
fazem da vida um triste vácuo;

já não resta mais escolha,
tua opção é que recolha
o teu susto, teu espasmo;

desfigurado num cataclismo
de prantos roucos e vazios
o homem se desespera;

descobre e tocas em tua ferida
quando percebes tua própria vida
a perdida ávida quimera!

XII

(04 de abril de 2013)

I

e é só pensar
no aeroporto de novo,
no vidro preto, no vento
no frio denso, do centro
que me sinto estranho com o tempo..

me lembro que acordei às 6
e a notei já com estranheza;
sentei, sem entender muito bem,
o clima tenso da nossa mesa;

"não temos muito tempo,
pois bem, atentos ao horário
vai partir em poucas horas,
temos que sair, vamos pro carro!"

e eu te estranhava, assustado,
te seguia, te segui, ali, ao teu lado;
não me lembro, não sei, mas percebi teu estado,
sofrimento, medo, lamento engasgado...

sentenciada ao partir de imediato
à falha de fato de qualquer presunção
sem muito tempo, planejamento, retrato,
já entravas no vão daquele saguão...

e entrou;
me abalou, me marcou,
um vidro preto me chocou;

via o reflexo
a imagem da minha vó,
abraçando o seu neto
e a olhando indo só...

Oh Vó,
forte, como sempre,
fizeste muita flor
que pegaste inda semente
se abrir com teu amor!

mas estava lá, o vidro preto,

nos separando,
ela entrando,
a caminhar
um passo lento;
chorando,
despedindo,
"vou voltar,
eu prometo".

Estava lá, vidro preto,

Como fronteira erguida em dor,
roubou os retratos que achou
nos deu os pedaços que rasgou;

nos deu dois lados de um lado só,
cortou-nos os laços de nosso nó,
deixou-a sozinha, sem mim, sem dó,
deixaste a ela, talvez, o pior;

Estava lá, vidro preto,

não a via,
e era só minha imagem
refletida..
ela ia,
e ficava ela em mim,
e doía..



e se foi.


II

E voou.
tantas horas de solidão,
no avião,
pra tantos anos que virão...

E eu só me lembro da escada,
do choro, a renata,
tão nova de casa,
descendo, calada,
leandro, maria,
camila...
pra casa.

e a estaca da vida
de uma criança tremia!..

eu chorava, não entendia
só sabia pra onde ia,
pois bem, quando vinha?
não tinha um dia,
quem sabia viria mais rápido que o dia
que passou tão devagar...

ah, esse dia,
tão fácil de lembrar;
Esse dia,
o que se foi,
que a levou pra lá,
que, tão estranha a vida e seus fatos,
em poucas horas tantos anos se desmancharam pelo ar,
chegaram e passaram
chegando a voar,
levando-a, tão leve,
atravessando o mar;

esse dia,
que agarrastes e grudastes
feito pulga em nossa história,
feito cravo no algodão
mais puro da memória,
pingastes com as próprias mãos
a dura lágrima quando choras,
a saudade em meu coração
feito bronquite que sufoca...

e sufoca,
e sufoca...

e hoje aí está,
12 anos, distantes
e é sempre "de agora em diante,
juro mais do que antes,
que hei de voltar".

há de chegar?


III

fugias avante ao imenso céu;
entravas convicta no turbilhão
das turbinas, turbulências, avião,
da águia de metal em direção à de papel;

mães que voam, arriscam os ares
por altares no fim do arco-íris
para rezarem, enfim, por teus lares
que ficam pelas terras da madeirite,

já nas terras do diamante,
dos arranha-céus sufocantes,
caem dos céus as santas distantes
no império fel de vis madames;

catapultas invisíveis,
mecadológicas, financeiras,
arrancam plantas pelas raízes
lançam os frutos sangrando seiva;

invadem o útero,
vasculham os cantos,
buscam os únicos
amores em prantos;

largam-nos com desprezo,
roubam-nos uma parte,
para roubar-te a única arte
de trabalhar por desespero;

mães se vão,
lutam por outras bandas,
labutam em meio a tantas
outras mães em solidão;

mas também ficam no brilho
dos abrigos mais intocáveis,
nas saudades de seus filhos
onde jamais estarão frágeis.



IV


"Meu filho,
Tenho a data!
Tenho a data!
Esse ano,

meu filho!
Eu te amo!"

E hoje, chegaste
o dia em que disseste
que o dia chegou;

A lágrima toma-me,
arranca-me a dor
que me acompanhou;

Escrever o que,
se posso, em breve,
viver?


V

Nosso reencontro
será a poesia da humanidade,
dos tempos e de toda a trama
do amor, da dor, da saudade
que temos nas pedras, nos papiros,
nas cavernas, nas lápides!

Poetizaremos o mundo,
o pintaremos de cores jamais vistas,
de rimas jamais lidas,
de músicas jamais ouvidas,
compostas, escritas!

O evocaremos ao nosso bel prazer
do momento de se rever;
Escreveremos as novas divinas comédias,
novos romances, livros, escritos,
novos roteiros, novas peças!

ecoaremos as canções
de mãe, de filho,
nos navios, aviões
nos mares, nos rios!

Serás o mês mais iluminado
já visto e presenciado
pelo mundo!

Chegaste!
Chegaste o dia!

Anjos vibram
e cantam Odes
à tua vinda!

Lobos piram
e uivam forte
à nossa vida!

o meu corpo anuncia que quer você

(21 de agosto de 2013)

o meu corpo anuncia que quer você
quando mia e geme
e range os dentes
e estica e treme
a costela;
quando queima e derrete
feito vela,
e mela
minha coluna
de cera,
devagar...
até ela
se transformar
num mar
de mel branco
espumado e encharcado
de você,
onde me afogo,
me afundo, me afago,
me inundo, me encharco,
por querer...

e já,
desde já,
no te amar,
te querer,
reivindicar
te puxar e te encontrar
sob minha tutela astral
em meu sonho surreal
de volúpia e muito, muito dengo,
sob meus lábios,
sob minha língua,
sob meu líquido e meu suor
de ousar tentar buscar-te
em conchas de rimas,
eis o meu corpo,
que anuncias
que te quer,
te anseia,
te espera,
trêmulo,
se amacia
feito almofadas de penas
e plumas fofas,
e se afrouxa,
e novamente mia,
e geme,
e novamente
range os dentes
que lentamente
adormecem,
formigam,
sensíveis,
instáveis,
serenes...

o meu corpo anuncia que quer você
quando a poesia
surge de um não sei o quê
de dentro de mim...
o meu corpo anuncia que quer você
quando em si
já não suporta o tanto
de amor sem fim...

amanda e amor até mais tarde

(20 de agosto de 2013)

Amanda de amor.

Amanda que manda
amores pras bandas de cá,
por tambores que emanam bambas
e sambas de amar,
banhados por ondas
que quebram brancas espumas
e trazem bençãos do mar;
benção às tantas sereias que cantam
ao nosso luar,
ao nosso inspirar,
a nos abençoar;
benção a Yemanjá,
aos orixás,
a mim,
amanda,
a tu,
p.a.

Bênção a nós,
Amanda de amor,
bênção ao amar.

vontade de você

(12 de agosto de 2013)

vontade de você,
de me sufocar no seu pulmão ofegante
e me queimar na sua saliva...

me, melado, surgir à tua pele
e te amaciar o corpo sincero,
fazer-me de ti, amor, teu anelo,
nos poros que a nós nos expele...

nos impele, pois sim! nos suga,
deslizes de nós rumo a nós dois,
e uivamos coiotes à lua,
à qual o sol sempre se pôs!

Oh Sol, estrela que deitas,
cativada por nossos quereres!
Deita-te,
esmiúça-te ante nosso nós dois,
ante nossos deleites de estrelas!

e à deriva, bambos e embriagados
vamos nos amando, tontos e sedados
nas esquinas, perdidos e deitados
rolamos em tatos e olfatos!

em nós! rolamos a fundo e enraizados em nós!
abraçados e entre abraçados num mundo a sós!

... e bambos a gente vai se amando e se encucando com coisas encucáveis somente por nós dois, que duram infinitos minutos de lisergia do nosso amor que surgem um durante o outro a cada novo soluço; e então volto à vontade arretada de me meter em confusão com a alma do seu amor, correndo, brincando e querendo-te mais e mais...

se eles procurarem direitinho, vão ver cinzas no meu ninho, vão saber que houve amor...

(02 de agosto de 2013)

ah se você soubesse
que em todo momento me dá
um não sei o quê que cresce
vertiginosamente a me fustigar;

me contorço, fica contido
me inspiro mas não sai;
respiro, fica retido
não vem e também não vai...

engasga, me sinto mudo;
leviano no começo
no desenrolar, me tropeço
pra concluir, me pergunto:

será mesmo que tem gente
que escreve as coisas que sente
em versos que suficientemente
nos fazem emocionar?

de onde vem a junção de amor,
com paixão, verbo, dor,
de alguém que se inspirou
por simplesmente amar?

se um dia eu descobrir,
juro contar-te, lua,
por versos que eu proferir
de uma poesia à sua altura!

28 de julho

(29 de julho de 2013)

eu não tinha nada a perder,
mas é isso, infelizmente
não tenho nada também..
mesmo tendo o seu amor,
meu bem,
não tenho nada, e é o que dói,
que estremece, que maltrata,
ter um amor e tê-lo nulo,
suprimido em mudas palavras,
em riscos, rabiscos, versos,
em estrofes, em traços, em berros
expressadas ao léu, pro nada,
gritados no silênico de frases
caladas quase sempre no quase,
subtraídas e censuradas..

dói, porque são poemas
de duas almas que se amam
e não se falam;
não se abraçam,
não se têm, não se beijam,
e se calam;

não se matam de amor
não se juntam, não se fuçam
sem suspiros, sem calor,
não se perdem, não se buscam
sem mordidas, sem berrões,
sem feridas, sem pudor,
sem alívios, arranhões,
sem bocejos e sem calor...

dói essa fala não falada,
essa saudade não matada,
essa história mal contada,
mal terminada, não terminada,
dolorida por não ter em vista
algum fim de alguma página;

e são sempre páginas em branco
que são viradas após páginas
escritas e desenhadas,
torcidas e apaixonantemente
emaranhadas de furor,
de amor, de ardor,
de pecados, que sem contato,
sem tato, sem olfato,
são páginas em branco,
sem sentido, sem valor...

dói por ser a mesma dor,
de um fim, depois de um fim,
depois de um ano, o que já voltou,
que enfim, voltou assim,
prum breve espanto que consumou
em mim, de tu em mim,
em novos prantos do mesmo amor...


e eu ainda só quero te beijar (mesmo mal sabendo tudo o que isso poderia ser, ou então causar)..
(29 de julho de 2013)

faça login... existe um rascunho pra você, coiote...
(22 de julho de 2013)

talvez podemos...

e a gente vai..

(09 de julho de 2013)


Tive notícias suas...
Como está?
Pelas notícias, meu amor,
Não sei concluir a respeito de algumas luas,
alguns versos ou algumas ruas escuras
que eu penso cruzar,
ler, olhar, ver,
e que talvez não passem de nuances,
equívocos, e que nada façam sentido,
ao menos pra mim, de você...
Se é que me entendes,
busco entender-te do modo mais complicado,
ler-te procurando-me e escrever a ti de modo desajeitado,
procuro encontrar-me em teus arranhões mais apertados
em forma dos versos e soluços seus...
Procuro-me nos seus suspiros,
e procuro mais ainda
saber se me encontraria,
realmente, sem equívocos,
nos seus espaços, nas tuas rimas,
nos teus escritos,
nas tuas sílabas...

verbo azul

(05 de julho de 2013)

E ele queria poder transformar essas luas naquilo que elas tentam se metaforizar, coisificar, limitar...
E pensa: Ah!, que coisa linda seria se conseguisse transformar, voltar, recriar, retratar...
Lua, pra ele, talvez seja um verbo, verbalizando o que de dentro surge ao ar,
tentando deixar escrito o que o verbo não exprimiu, acionou ou poderia realizar,
tentando transformar num grito que já ouviu mas que a palavra escrita não pôde falar, gritar,
descrever, dizer, mostrar...

e, enfim, talvez tente por meio da lua, de teu verbo, teu verso, teu escrito ou mesmo teu suplico,
talvez tente aflito voltar ao início que deu início ao teu amar,
verbalizar, escrever,
falar, gritar,
apaixonar, ser,
você, luar.

may this be love

(03 de julho de 2013)

auroras ao 18 de julho

(10 de junho de 2013)

18 de julho chegando e tanta coisa chegou,
se foi, passou, ficou e algumas tantas me distanciaram de você
como tantas outras fizeram-te distanciar de mim..
Outras tantas algumas por mim passaram parecidas como passou você,
mas algumas tantas lembranças de você ainda passam por aqui...
Talvez não saibas, mas a nossa lua às vezes me conta
segredos tão seus que só ela sabe, por estar sempre lá,
te paquerando e talvez te amando do mesmo modo...
Vai saber, né, pra quem sobe aos negros e gigantes céus
todos os dias, se veste de branco esplendor
para te vigiar sempre!.. Talvez realmente continua te amando de mesmo modo...
Às vezes ela assusta meu coração quando,
ao fitá-la de modo mais curioso,
me deparo com o seu cigarro de palha,
o seu Coiote, o nosso Ave Sangria,
a água que lhe comprei no dia em que nos conhecemos..
Mas, por fim, a lua compreende a força natural do tempo,
da vida, das coisas como elas são, e se põe...

Já que tudo foi feito pelo sol,
toda aurora é uma boa nova aos 18 de julhos da vida.

Ao filho que se matou

(08 de junho de 2013)

me sangra a esperança,
me aperta a ferida que não tem cura,
me agoniza a dor que me afinca dura,
que não é branda, que não estanca,
que sufoca o ar em minhas preces,
que me queima e arde à flor da pele...

em minh'alma crua,
um vazio imenso
me afunda no desalento de lhe caçar;
me aperto e tento
te buscar o tanto quanto eu puder tentar,
onde quer que penso que ainda possa estar...

Ah, me enlouquece
o fato de saber
que não vai voltar,
não mais me conforta
tentar lembrar
dos abraços que você
vinha me dar,
me beijar, me olhar
e dizer "Mamãe,
como você está?
Mamãe, o que tem pro jantar?
Mãe, feliz dias das mães,
eu te amo, mãe",
na sala de estar..

Mas dói,
isso tudo me dói,
minh'alma em prantos
nos cantos da sala
busca tua presença,
busca evitar a barra
que passo em tantos
sonos perdidos
por tua ausência...

Se perdestes na imensidão
da vida em tua vida,
onde até a morte cabe,
e onde aos vivos
cabe a despedida,
do filho que vai
e a mãe fica, aflita,
perdida, desnorteada,
sofrida, angustiada,
sem vida...
Perdestes nossa vida!

Pedaço arrancado,
litígio apertado,
trauma plantado!
Estrangulado, o pescoço
palpita apertado
o sangue engasgado
em mim!

Sufocado o meu parto,
sucumbido no ato
do filho enforcado!
E na dor do vazio,
o retrato sem brilho,
infortunas o frio...
em mim!

Oh, meu filho adorado,
nascido e criado
com amor e cuidado,
torço que abra a porta
e que me abrace de volta,
que me leve p'ra fora
dessa escuridão;

Mas meu peito rouco
trêmulo, louco
me destinas agora
o retorno à morta
certeza de morte
de teu clarão!..

Meu filho, morto,
Ao menos, aos poucos,
voltes de volta,
me chames agora,
meu ventre chora
por solidão!

Retornes,
espero, eu quero,
desejo, aperto
meu peito,
teu leito, vazio,
me mata a razão!

Meu filho, eu te amo!...

Não!.. Não...

de brasília, quem sabe um dia

(02 de junho de 2013)

Entre,

deixe-me lhe apresentar tua filha em mim,
já que me apresentaste tuas filhas a mim.

Nasceste desorbitante e latente um útero em mim,
de ti.

Venha, danço contigo a dança eterna da juventude
que saltita em teus olhos.

Danço como nunca antes, juro-te,
hei de surpreender-te mais e mais, por ti.

E hei de envolver-te mais que meramente dançar,
o que amaste em mim.

E que líquido ardiloso, formigante e dormente
que escorrega desse útero corpo adentro e pernas abaixo aos pés em mim!

Fizeste de um vibrante e órfão coração em tua plenitude juvenil
um borbulhar jubiloso e inquieto.

A princípio, por tuas filhas.
Após, por ti.

A sensatez não intimidou.
A tradição não calou.

A moral não suprimiu.
Essa, passou longe.

O pecado, que bêbada insistiu em aluzir,
em ressaltar, eu sei que era apenas algo irrisório,

para ter algo no que se basear para negar o que sentíamos.
Nós sabemos.

O uísque, ah, o uísque,
o nosso uísque,

que nos envolveu como um lenço ao rosto macio de uma criança emocionada,
como o tango ao argentino mais fervorosamente apaixonado,

como o tirar das roupas de um casal
num determinado minúsculo quarto de hotel no interior da Espanha,

este uísque, que nos envolveu de tal modo,
escorreu como dilúvio de malte e bourbon paixão a dentro, tesão a fundo.

Fez-me úmido para que meu estribilho dos pot-pourri de boleros argentinos
fosse fecundado pelo teu desconhecido não-sei-o-quê.

Não-sei-o-quê!
Que me cativastes! Me apunhalastes!

Tua você em diálogo com tua idade?
Seria isso?..

Aliás, o meu observar-te a fundo,
vasculhar teus anos de vida, tua vida,

teu rosto lindo, cheirar teu perfume maduro...
Seria isso?

Sei que me cativastes e me apunhalastes...
E que me destruíste tanto...

Mas não me conheces.
Sou daquele que enaltece, que engrandece, que vibra, que saúda, que se apaixona...

Tua presença, a partir daí, me deteriora.
Me saboreio dos devaneios dos meus novos dias, dos meus novos olhares perdidos.

Da presença quente trançada pelos mantras dos uísques,
das danças, dos vinhos, das nossas idades,

perco-me na vastidão do não tê-las durante mais que aquelas poucas cinco ou seis horas...
Entre..

Entre!
Sim, quem sabe um dia...

a disciplina nos corpos

(16 de maio de 2013)

os mutilados disciplinados,
embotados de domínio,
surgem como monstruosidades
aos batalhões de milhões à luz do Sol.
Se desfazem de vós mesmos
como a solidão entristecedora
perante a presença exuberante da lua,
aos tropeços, temores, medos.
Os desvalidos de domínio
catalizador de corpos-motores
estáticos em seus movimentos
predestinados, se lançam
madrugada a dentro em
busca de uma gota milagrosa
de orvalho-libertador
que eventualmente cairia
das esperanças em nuvens que
teimam não se desmancharem...
Nada de esperança,
nada de novo,
nadam na maldição do
não haver saída
e cai lento o relento desta
maldição surda, silenciosa e muda;
o dia renasce e retoma-se
a rotina assombrada e vigiada,
espalmada e aterrorizada
dos dóceis e piedosos
disciplinados do movimento
admirável-mecânico-natural.
Os corpos dominados
gemem suas ausências.
E o velho mundo se esbanja
em engrenagens.

dos porões: março de 2011

(16 de maio de 2013)

o coração aperta!

porque não aperta minha mão
e me deita no chão?
emacia minha perna
que não aguenta a pressão?

porque não fecha meus olhos
pr'eu dormir no balcão?

pra cabeça esvaziar
do vazio, então,
coração,

não aperte!
bata!

e mate
o que mata
a ti
e a mim!

bata
e refaça
de ti
meu jardim!
..

uma vida em uma rima de viver com morrer

(16 de maio de 2013)

Oh vida,
embora me crivas fustigada a penosa dor que é viver,
Me resta ainda resguardada a certeza que um dia hei de morrer.

Oh vida,
valha-me céus, vida, vou te esquecer
e viver;
Oh vida,
é assim, vida, vou-me viver
pra morrer.

E assim rimamos. E assim vivemos. E assim levamos. E assim morremos.

em minha belo horizonte - janeiro de 2013

(14 de maio de 2013)


posso perceber a força de um carnaval
assim como a força do tempo de um para o outro
a paixão, o amor, a ilusão, a felicidade teatral
com os corações sutis que foram colados no rosto..
ilusão,
pudera eu entender perfeitamente os compositores
quando estes atribuem ao carnaval essa definição
e posso, pude, entendi, vivi, vi os senhores,
as senhoras, os garotos, as garotas
os amores e as amoras florescendo maravilhas
no carnaval, a paixão estourando serpentinas
no meu quintal
o amor ecoando agonias nos meus dias de pingas, limão e sal..
no carnaval,
meu carnaval, tão voluptuoso, libertino e dramático
choros e sorrisos engasgados eram tossidos da alma
expelidos e excrementados à carne crua, a alma nua
vibra e canta marchinhas de marchinhas de rua
embriagada e tonta a alma menina tinha suas angustias
mas cantava, se emocionava, bradava tuas figuras e gritava hinos contra a moral
contra os costumes conservadores do amor convencional
católico e retrógrado dos ciumes que deveriam ser vencidos e sucumbidos durante e após o carnaval
oh, meu carnaval
não me trates mal, sejais piedoso

dê-me tu de corpo e alma
na forma dos dias
entre quinta e quarta
que dou-me a ti de coração
para receber em troca justa
a cura da minha solidão

dê-me tuas músicas,
tuas marchinhas, teus confetes,
tuas nuances,
noites libertinas que me aquecem

que me clamam o amor em forma de diluvio espontâneo
que me confortam durante alguns dias festejando..


ah o carnaval, venha a mim, se uma dia eu estiver novamente me apaixonando!

À Lua Minguante

(13 de maio de 2013)

Lua Minguante,
que seduz que eu me deite
em teu leito brilhante;
tua luz,
clarão espumante de leite
encostado em espasmos
brancos flutuantes,
ralos, tímidos, esfumaçados,
perdida na vastidão negra azulada
de teu reino enfeitiçado,
conclama aos embriagados
atenções e soluços chocados...

atiçado meu sentido
de sentir-te e sentar em ti,
debruçar e me espreguiçar em ti,
aí, em ti, justo em ti,
que tão longe abismo mortal
nos afinca a separação;
Daí, quero maravilhas que daqui
sonho todos os dias em que me volto a ti
para contemplação.

Daí, que nos observa
com maestria e percepções lunares,
fantásticas, nos ares
da lunática obstinação;
Acompanhada de
tuas companheiras solitárias
espalhadas pelo infinito espacial,
[as estrelas entrelaçadas
por teu perfume noturno e astral]
onde os passos largos dos Deuses
se realizam, se compõe,
compondo reverias divinas
como poesias plásticas aos nossos
olhos latentes;
Acompanhada destas tuas estrelas,
satélites, cosmos, meteoros,
liturgias, astros, feiticeiras,
da retinente existência
que lhe faz reluzir,
da expoente frieza
que lhe sustenta
o contraste do negro faisão-céu
com o teu alvi-existir,
me aparece perfeitamente
redonda em teu surgir, nascer
se fazer de Lua ao entardecer,
aparecer aos olhos de chorar,
ostentando tua ternura
serenamente para, a ti,
me curvar;

Oh, Tua curva, Lua Minguante!
Tua curva!

Daí de tua curva tuas pontas
vislumbram o norte e o leste,
ousadas pontas,
que virtuosas enfrentam
os ditames mitológicos dos fins
dos céus; pontiagudas e viris
são estas extremidades desta curva
incandescente, fina-grossa-fina,
que nos choca a perfeição;

Daí, Lua Minguante,
pego-me delirante febril
ao teu lado,
tenho te abraçado, beijado,
tenho estado perfeitamente
em minhas humildes batutas mentais
alucinado por tuas tais curvas
turvas e chocantes em tempos iguais...

Mortais, Lua, Oh meros mortais!

Dos quais sou um torpe indigente,
que ousa lhe cravar os dentes,
enfincar as unhas em teu redentor
clarão;

Estás, Lua, é claro que estás,

em postais diversos, aos milhares
de milhares espalhados na solitária humanidade,
que, sem tua bondade e grandeza,
certamente se mataria pela fraqueza
de se pegar em solidão;

Desejo-te toda tua alma,
tua carne-energia pura
absorvida do Sol, teu grande parto;
Desejo estar em ti, em toda tua trama,
lhe escrevendo, descrevendo,
por teus interiores brancos em chamas,
palidamente intensos, em teus cantos
à noite a adocicar os prantos na minha cama;

Oh, Lua Minguante,
nua, princesa da beleza natural
e do desejo boreal,
Desejo estar em tu como minha cama-mãe,
minha satélite-rainha que me estigma
a existência de vibrar;
querias, em ti, estar escrevendo sobre nós,
deitado, a sós, em teus braços, teus lençóis,
como rouxinóis em ninhos noturnos a cantar!

Oh Lua Minguante,
me afortunas, me cativas,
juro te amar!

a velha

(10 de maio de 2013)

Relato de um quadro pintado por uma velha negra pintora desiludida, apaixonada, perdida e humilhada por tua vida estúpida e órfã de algum qualquer amor que não existiu, que amargamente morre pintando este teu último quadro.

Eu,
que sou retrato,
quadro pintado
aos montes de óleo,
desvelo-me em fólio 
e escorrego como posso por madeiras com fios negros;

Manifesto-me pelos dedos trêmulos da agoniada,
desesperada;
lambuzada com óleos azuis, 
resguardada e calada em bocas amareladas,
as fantasias loucas de tuas cintilantes noites passadas reluzem em teus olhos sem luz...

Cria-me menstruada de nostalgia,
sou orgia;
dita-me as cores exageradas de uma antiga menina que,
embora ainda viva, tua vida há tanto se esvaziava de encantos e de magias e
pinta-me, no fim das contas, a lágrima,
colorida, ensanguentada,
que escorrega dos fios de seus cílios
aos fios do pincel,
que molham minha face em cores douradas derivadas de mel...

Eu,
que sou retrato,
retrato os trapos e trepas 
de épocas passadas por aquelas bocas encharcadas; 
transas sem fim
são em mim a forma exclusiva de vida póstuma expressadas em meu folhetim...
Xingo os tantos
desencantos em meus traços,
me sinto santo
quando sinto que as mãos que me pintam, há tanto, enxugam prantos esboçados,
abafados,
calados...

Eu, 
que sou retrato,
Pintado de ruído,
de angústia carnal,
riscado em silêncio,
faz-me de revelia à memória aflita de uma velha úmida desapontada, desbotada,
perdida, esquecida;
Flor murcha!
De botões estapeados
pelas estações,
tem o cheiro do mofo
de tuas bodas escuras de cristal-quebrado que atravessaram gerações...


Eu,
que sou retrato,
sou soluço,
sou ingratidão,
meu busto é aflição do perdão do tempo que não veio, que tampouco há de vir;
sou o cansaço de sentir o tremor de mão,
sou o pavor do pedrão,
a dor de existir e se sentir que existiu em vão...

sou restos de tinta pingados a cada batimento cardíaco reduzido,
reduzindo aos poucos num quadro;
sou, enfim, os últimos traços da nossa velha como retrato,
de um peso morto, pintado.

cálida calda

(08 de maio de 2013)

Em teu tremor,
nestas horas,
teu odor rompe as trevas das trompas,
sai de dentro de teu centro
meticuloso, se jorra em sondas,
se espalha terrível e apocalíptico
ao suor de tuas transas...

De teu escuro útero,
em ulteriores poemas
tua história se desliza
pelas paredes que se desmancham;
tua história se rebatiza,
reescreve, retrata
tua batuta e batalha
por tuas selvas que lhe mancham!

Deslizam rente ao abrigo,
rumo ao perigo
de se expor àquilo que é frio;
Das pregas as trelas saem,
gritam, caem e esgoelam,
hemácias aflitas
por fora dos lábios melam;

nestes ovários os gatos adormecem,
as luas aparecem
em cenários impensados;
surgem como do nada,
se aproximam aos teus,
copulam alguns amores
e, na semelhança de deus,
adormecem em raios solares...
raios tão incríveis por tão fracos,
tênues e gentis... sublimes,
teus perfumes espumantes,
teus brilhos naturais
na profundeza de tua escuridão
são plumas aos raios astrais;
em tuas nuvens de solidão,
vos instiga, enfraquece,
apaga, reacende, reaquece,
de acordo com teus humores,
com tuas luas em prontidão,
com tua prece e oração.
Em teu pessoal, íntimo
majestoso e grandioso porão,
onde a estrela sol é meretriz
criança imatura, aprendiz;
tu se vale, a tua grandeza,
teus raios invocam teu ser-te,
ser você, ser si mesma.

De ti trazes tua toda Mulher!
Tua ser quem és,
teu sentir dos pés
o calor surgir,
Subir!..
Emancipar e persuadir
quaisquer fiéis,
em quaisquer lugares,
em quaisquer motéis,
igrejas, parques,
ou até bordéis;

me cativas com teu parto,
tens meu tato para lhe tocar,
como um contato emprestado
nestas horas de amar;
me encanta tuas veredas,
tuas tirânicas e vermelhas
caldas cálidas e chiadas,
que, de tuas veias, vêm jorrar!

Lereis quaisquer contos,
romances tontos de um tanto
de errantes que tentam
te escrever;
tal como eu, que ouso
te perceber,
em meus alcances te tocar,
sem ao menos poder lhe ter...

Lereis tua cor,
tua Odisseia que brota
em borbotões escarlates,
Sereis o Vermute,
o Conhaque num embarque
pra outras estações;
Sereia, roda de samba e
capoeira,
tu és de Mulher,
do corpo melindroso,
sutil, grossa, que,
em despojo, se punja
em mel à saída estreita
do corpo-tesão;
adocicado escândalo,
bárbaro e perseguido
por Pérsias, Pigmeus
Atenienses, Romanos,
Prussianos, Franceses,
desde sempre, tu vens,
aos prantos, nos cantos
e espantos em vão.

Vieste de teu
tao longe interior,
a tratar de deixar-te
tão tépida como uma flor;
trazendo tua trama
em derradeira tensão,
trepando-te com tua transa,
tens, a ti,
menstruação.

verso branco

(28 de abril de 2013)

por aqui, por ali,
vasculho e procuro tanto o verso branco...
talvez poderia falar por mim de modo esplêndido!..
mas não o encontro por enquanto, e, sereno
me sento e escrevo rimando o tanto que conseguir...
consegui! consegui?

mulher livre - uma necessária redundância para descrever Marina

(28 de abril de 2013)

sois a fortaleza que posso sentir
ao ver-te em teu sorrir..
em tua beleza entorto-me,
em tempos incertos que vêm e vão,
quando me espanto me pego amando-te,
enquanto teu encanto me ataca o pulmão;
faz-me perder alguns respiros tranquilos,
quando perco-me em suspiros ávidos,
tornam-me claros uns poucos delírios
por tua fluidez de teus espasmos...

sois puramente bela,
em tua eterna naturalidade,
tão explosiva e tão quieta,
afinca-me atenção a tua liberdade!

Ah, mulher livre!
livre mulher de alma nua...
da liberdade viril,
que me atordoaste há tempos com tua
vivacidade e feminino sutil...

hoje brado-te teus traços!
                                       [que antes me atacavam aos trapos!

amo tuas incontáveis asas,
que voam e planam em teus espaços,
infinito onde tua beleza em rastros
pinta de vinho livre tuas cristais taças!

tua alma,
cosmopolita do amor,
patriota das pátrias inexistentes
entusiasta dos desapegos resistentes
se faz presente nestes rastros
que teus laços deixam por onde passam
e por onde estacionam tua quieta e corpulenta presença...

Ah, tua presença!
que admiro e espero tê-la por duradouros tempos,
tão impávida mesmo em teu desalento,
nociva pela modesta extensa...

Tua riqueza de ser linda e pura,
és ser só tua, criatura soberana;
emancipada de próprias lutas,
refutas se matar por paixões estranhas!

és pura, e por ser tua,
és dura em tuas feições;
por tal, alguns tantos corações,
se amarguram e se perdem em perdidas paixões...

saibam amá-la,
cativá-la e compreendê-la,
corações ansiosos!
teus olhos me anunciam,
denunciam o erro ao lê-la,
corações penosos!

Poderias ter sido deliberado o terror em minhas fugas e redenções por parte de teu louvor de amor-próprio;
mas sei que não serias a própria se te entregastes às minhas bobas e desesperadas entregas de mim.
hoje tenho-te, sem a ter, sem ter-te a mim; hoje amo-te, sem a amar, sem amar-te a mim; hoje compreendo-te, em teu ser, sem que compreenda-te assim; hoje sei de mim, sei de você, sem você saber que sim.

Meu grande amigo

(13 de abril de 2013)

espreitado, fechado,
teus olhos vidrados
tentam tanto o longe
num perto canto do bar;

remoído, insistido
em teu ódio engasgado
vibra o pranto fechado
num certo espanto de amar;

espantado com a paixão,
com o seu lidar com seus amores
e em seus contratempos interiores
segue agarrado a pesos mortais

e calado em alucinação,
se faz estar vívido em pormenores
que pelos apelos próprios fazem-se maiores
se apresenta ao povo já como estás;

explodido em todos, em tudo,
o tanto quanto se resmungava sozinho
em seu interno se internou em ninhos
de arames e ferros de seus soluços

rasga ódio de tuas amadas,
a raiva do pródigo de alma e horrores,
é lâmina crua de tuas espadas
que cortam as pétalas de tuas flores!

se faz como lês, como os distúrbios
estais a sós com eles, teus atores e escritores
jantarás nos nós das escritas dos prelúdios
narrados e ditos em contos de horrores

ah, os horrores que tanto te cativam!
tanto te maltratam, quanto te instigam!
fazem-te maltratar a ti mesmo,
fazem-te limitar-te em teu medo!

teu medo, receio, desejo, ciúme
colateral, visceral de costume,
é o desejo torpe de maltratar, controlar,
berrar, gritar, quebrar e então se entregar;


não busques o rancor definhando
o olhar perdido e maltratado;
o rosto sombrio, o perfil espalmado
o espectro vazio, enfurnado em tal estado;


não faças mais assim contigo,
com teus amigos, com teus amores,
não arda mais em teus louvores,
em teus odes ao teu castigo;

não te metas em sombrios caminhos
interiores, buscado por teu procurar;
não esqueças que teus próprios espinhos
são tão finos, para te fincar;

espetar, furar, te esvaziar
de teu brilho que reluz em teus cachos
teus traços, tão admirados
e tão fáceis de amar;

sei do que te angustia
do que incansavelmente procura,
o que escuta e reproduziria
em tuas tramas em tua alma escura;

não te reduzas a abomináveis
atitudes terríveis por ter que explodir;
não te induzas a impensáveis
explosões que insistes em perseguir!

um grito num domingo

(07 de abril de 2013)

e um grito silencioso abriu suas asas, levantou voo e escureceu o céu;
as asas choram penas de sangue, que coagulam os desesperados pelo chão, se arrastando a qualquer lugar, qualquer lata de lixo, jornal de ontem, qualquer marquise apodrecida, procurando abrigo;
e nuvens segurando o pranto fazem deste céu a tragédia;
fisgando seus órgãos, músculos inseguros puxam as fibras tensionadas, com as veias expostas e bem vistas, bem formadas, remoídas pela pele que sente o rasgar do vento frio e da imagem de catástrofe que lhe queima a normalidade das estéticas;
O grito voa como um pássaro esplendoroso, universal, onipotente, de olhos nublados, pulsantes; os dedos encolhidos, sem boca, sem lágrimas, sem suor, com seus cabelos embaçados e que mal podiam ser vistos sem uma confusão invariável e irritante; os cabelos se faziam de uma nebulosa marrom acinzentada.
O grito sobrevoa lentamente, em suas grandezas elementares, como quem impõe de súbito o medo, o quieto desespero e a segura tensão;
as nuvens, espumas antes escarlates escurecidas agora cinzas, negras e pálidas, flutuantes, tão firmes nos sobrepostos são o fundo perfeito ao terror e distúrbio do momento.
Num domingo qualquer, da janela que se abriu, se sentiu o menino em conflito e se perdeu no olhar perdido em busca de inalcançáveis;
da janela aberta, espreita os segundos ao fitar a cidade,
sem a atenção da paisagem violenta e calma, turva
se viu o grito silenciado, se percebeu a violência de teu estado,
e voltou-se o menino ao seu domingo, como os outros domingos,
e como os outros domingos, voltou-se o menino ao seu quarto
(02 de abril de 2013)

os demônios são lindos

eu

(01 de abril de 2013)

tenho vários,
várias, tudo, todas,
todos, meus, eles,
elas, os desenhos,
as prosas, as conversas,
as variações, as invenções,
as conquistas, as glórias,
as tristezas, memórias;

tenho os aviões, as guerras,
sangues, os furacões,
tenho a mim, tenho as vidas,
tenho trocados, os Estados,
os tratados e os pecados,
os requintes, os venenos,
os penosos, os serenos,
os lutadores, as guerreiras,
as espadas, dragões,
os castelos, príncipes
e as princesas rebeldes;

tenho as consciências,
as consequências, as ciências,
as filhas dos generais,
dos delegados e dos fazendeiros;
os irmãos, os primos,
as primas, as primeiras,
as últimas, os primeiros amores,
os amores, as amoras,
as flores e as florestas,
tenho as cartas, as aspirações,
as paixões, nuances, os perfumes,
os relatos, os retratos,
as físicas, biologias e químicas;

tenho os mistérios,
os véus, os lençóis,
as praias e os menores do centro da cidade,
tenho os laços,
tenho os meus braços,
os meus dedos,
meus músculos, minhas veias,
meus instintos de animal,
minhas fomes, destruições,
alucinações e manias de perseguições,
tenho minhas orelhas, meus olhos,
meu corpo, minhas objeções;

as políticas, os estreantes,
os errantes, os errados,
os corretos e os manipulados,
as estruturas, as máquinas,
as modernidades, as estações,
os acontecimentos,
tenho os cemitérios,
tenho os carnavais, os quintais,
as casas, sobradinhos e mansões,
tenho as mães, tenho as saudades,
tenho as línguas, as estrelas,
tenho as sereias,
os cantos e os encantos,
os encantados, os envenenados,
os corredores, apostadores
e os infratores;

tenho os direitos, as forças,
as forcas, as igrejas,
religiões, as índias,
caravelas, os mares,
as novas terras,
os urros dos escravos,
os oceanos e os monstros,
os demônios, os deuses,
os paraísos e os infernos,
tenho as  meninas,
os meninos, os lares
e as ruas, praças,
cidades, nações
e culturas;

tenho as firulas,
os charmes, as respostas,
tenho as suas respostas,
as suas indagações,
as suas vibrações
as suas paixões
as suas emoções
as suas insistentes conclusões
e ações,
tenho as suas costas,
suas pernas, suas mãos,
os pesos que recaem nessas suas costas,
tenho pena
tenho raiva
tenho pressa
tenho angústia
pretensão
ambição
sensibilidade
tenho tremores
flores, cheiros e sabores;

tenho horrores,
tenho cruzes, credos,
tenho as suas premissas,
tenho as suas vias,
tenho os seus errados e os seus certos,
as suas espreitadas na porta um pouco aberta,
as suas espiadas na fechadura,
as suas escapadas em fitadas da sua janela,
as suas entreolhadas nas festas,
tenho as suas astúcias
tenho as minhas fraquezas
tenho nossos encontros
tenho nossos desencantos
tenho nossos telefones
tenho nossos contatos
tenho nossos amigos
tenho nossos retalhos
nossos retratos
tenho os restos de acordos fechados
tenho portas fechadas
tenho céus imensos
tenho seus sensos
tenho meus pensamentos;

tenho, no fim
tão longe e retumbante quanto o verbo ter
mesmo sendo o quão longe esse no fim,
tenho a mim
tenho o amor, pávido, universal,
multilateral e imenso,
tenho o amor a mim
enfim, tenho eu,
e tudo que se realiza
em torno do esplendoroso certeiro da existência
e de única condição de conjugação do verbo ter,
tenho a mim!

te escrever me instiga

(31 de março de 2013)

por que se faz tão forte,
que em estrofes
me reviro tentando
lhe descrever?
por que me pego
desatinando em versos,
que por certo servem
para citar você?

parafrasear algum excerto,
exagerar em alguns sonetos,
para explicar alguns momentos
de euforia de paixão...
remoer inspiração
em te ter numa canção,
numa rima que viria
te amarrar em meu colchão!..

que faria-te de doida,
que me amaria a noite toda,
em toda noite minha,
nossa, nessa rima;
que me agarraria e sacudiria
quando eu me fizesse de todo seu;
esse destino que todo dia
a mim se ofereceu..
sincero, franco, tua ternura
me fizeste agarrar-te como nunca
ou como sempre, mas agora a boa nova
de me entregar à tua prosa..

entreguei, me lancei!
ao tal destino de poder lhe ter
de ser-te, enfim, alguém
que há muito não pude ser!
de acompanhar teus cabelos
crescendo como crescendo nosso nós;
nosso nós dois, ao nosso esmo
ao léu de nosso a sós!
a sós, me perco na vastidão,
do que a sós me apresenta o que és;
oh, rimas minhas que arrastam aos pés,
do vasto certo que é a paixão!

se faz realizado um canto cantado,
como um verso, submerso, escrito,
quando se perde num sublevado delírio,
do amor de algum inspirado;
inspirado, me inspiras,
talvez sem a perfeição nas rimas;
talvez sem a alucinação das lindas
críticas de poesias bem escritas;
talvez sem a emoção de um Vinícius,
ou sem a perfeição do nosso Chico;
mas com certeza, vibrou para tal escrito
um dia um clamor de amor em um menino

me vingar eu não ter você

(25 de março de 2013)


me pego confuso
quando ora me atrevo,
ora me recolho,
ora me olho em meus olhos
e não me entendo;
ora lhe perdoo,
ora choro de teus olhos,
e me condeno;
e já me comprometo,
mas já me perco em perigosas prosas comigo mesmo;
me aperto, me esquivo
me retiro..
mas volto-me aos teus olhos
e é impossível acompanhar
o inevitável destino
sem me frustrar,
e quanto mais me reviro
é impossível te olhar
te fitar, te amar
sem me maltratar
e sem me instigar
a me vingar, te xingar
a te cuspir, berrar em ti
a fazer-te desesperada por qualquer motivo
bastasse apenas que fosse por mim;
mas volto a mim,
retenho-me;
remoído, retido em dores prontas
acabo vendo que no fim das contas
só me perco assim desvelando as gotas
dos meus olhos que fogem dos seus;
os meus olhos que perseguem os seus
de sólidos se desmancharam em borbotões,
em revirados fólios de minhas certezas de possíveis conquistas
e não encontrados nas tristes linhas de minhas anotações;
sem canções, sem poesias,
sem estrofes, sem bordões;
sem excertos
sobre incertezas
sem começos,
sem conclusões

O Devir e o Desvario por uma fraqueza

(14 de março de 2013)

este rebuliço instigante
em tempos nisso de sismos
disso que atravessas ofegante
em seus internos conflitos

teus is sem os teus pingos,
atribui ao alheio e defasado devir
os pontos soltos indevidos,
te escondes e reafirmas ao aduzir:

que o inferno são realmente os outros!
que os loucos dessa infame roda
rogam pragas bem vestidas, mórbidas,
ao teu pranto, imponente, rouco!

e os insolentes cantos desses malditos,
insistes tu em vos atribuir
em aludir que há em teus intrínsecos
as piores designações que possam existir!

coitado, insistes o atormentado,
vibrar calúnias e ódios latejantes!
pulsantes mas embriagados,
entoados por uma fraqueza rastejante;

que se humilha quando te sentes
fraco e triste o suficiente;
mas que outrora ristes como nos carnavais
junto àqueles que vos atraem;

vos atraem, te engana a ti próprio
ou te prendes em tua jaula
teu medo em público, amargo e impróprio
lhe impõe o cerco, amordaçada

amordaçada fazes a tua imagem
carência exata duma ciência fraca;
a ciência exata duma fraca alma
lhe rasga o orgulho, natural, selvagem;

Oh devir maldito!
Oh, desavir imundo!
Que as tralhas escutem o grito,
de um homem que procura conhecer-se a fundo!

Chuva que cai amiúde,
um míope emocional lhe clama,
que sejas desfalecida tua rude
e súbita agonia mundana!

Reclama, reclama!
reclamas a ti próprio,
oh cruel pensante;

Envolto ao véu
de seus semelhantes,
teu drama és nulo,
insignificante!

o que vias como beleza,
hoje tens como certeza
a agonia e a tristeza;

o que sentias retumbante,
hoje sentes ofegante
companhias inquietantes

És um mero perdido!
iludido e tens medo
De amores traídos,
eventuais desesperos...

Então te desesperas!
ansioso, se entrega,
E onde vias precioso
agora é terra que lhe soterra!

E eis que esbraveja,
grita impulsivo;
berra um grito vivo
eu tua voz trêmula, porém sincera:

Entusiastas do Devir,
sois importantes para mim!
Escancarem minhas fraquezas
que é para eu as destruir!

Apaixonado grupo do Devir,
mantenha distância de mim!
Minha preguiça e repugnância


fortalecem o asco que sinto por ti!

sisma

(12 de março de 2013)

o pior é a tristeza inevitável,
da certeza que o melhor
era ter sido evitado
o anunciado escancarado
que um dia sofreria,

se acaso a minha
alegria iludiria
e a euforia me faria
cego e surdo
um tanto mudo
como a tudo
sempre me fiz,

como a todas me entreguei,
como a esta o repeti!
como agora me deparei,
numa cova em que cavei
duma história, que perdi
o tanto que nela insisti...

agora canto e escrevo em vão
tento a mim próprio me consolar
mas não se consola a desilusão
com a antiga sisma de querer voltar;

talvez até queiras, mas é certeza
que é impossível, que eu fiz o certo
em ter sido uma vez sincero
não ter insistido, era besteira

era certeira a minha angustia
tanto era que hoje aqui está
não restava nenhuma dúvida
já sabia o que poderia dar,

e deu! se consumou
sofreu, aconteceu
e o tempo não se deu
por vencido, não passou

mas, ah,
há de passar,
há de passar, sei
há de passar..

e o pior é a tristeza
inevitável,
da certeza que
o melhor era ter sido
evitado
o anunciado
era preciso
evitar o
evitável...

the show must go on

(16 de fevereiro de 2013)


no fim das contas
é só aquela busca das suas cores
que faltam e nas pontas das pétalas das flores se encontram
dos cheiros que nos odores dos jardins cheios de flores te encantam
te encantam e recontam que no fim das contas
conta-se o veredito, ao pé de seu ouvido
e os pés já trêmulos não suportam os tantos vermutes encantados que vêm sendo recebidos
tenso, abatido, bebido os cortes dos traçados
os tragos dos maus tratos
perdendo os tentos do baralho
compreende o fim das contas quando conta a ti o teu passado
quando compreende de si o teu legado
enquanto surpreende consigo mais um naufragio
mais um floego suprimido já antes anunciado
no fim das contas
cobriu-se das águas que conhecem os caminhos
rumo ao peito,
espreitou se eram novas falhas que pereciam dos seus feitos
desfeitos e desafetos
rumo ao peito aberto no qual seus restos respondiam negativas
às investidas da questão
e agora apenas aquelas rimas tão reditas com "ão"
desilusão, ilusão, solidão, sofreguidão
no fim das contas
seria a mesma paixão
apenas a mesma

his last voyage

(16 de fevereiro de 2013)

Como se o frio
não viesse com o arrepio,
e o sopro
não fizesse o assobio;

Como se o stresse
não se fizesse
da rotina
e como se o louco
não tivesse, ao menos um pouco,
um momento de gritaria;

como se a canção
existisse
sem a interpretação
e a bronquite,
doída,
tossisse sem a rouquidão;

como se o peito
trêmulo
não tremesse do vento
tênue
trazendo emoções
serenes,
entretanto impetuosas;

como se o Sol,
descendo,
em meio ao céu,
imenso,
não provocasse
catástrofes
visuais
como as Auroras;

Como se agora
as estrofes, a história,
as lápides, as lutas,
vitórias, emboscadas,
as frutas catadas
nos bosques, nas grutas,
nas matas,
estivessem vazias de sentido;

como se o homem
não os tivesse feito,
exprimido, cantado,
gritado, louvado,
cuspido,
morrido no leito da guerra,
deitado na solidez da terra,
ou mesmo não tivesse sofrido
na solidão que berra;

Como se eu escrever
essas linhas
não tivesse ligação
com essa minha
solidão
que me assoterra;
maltrata;
me mata;

E faz-me comparar
as chibatas com as costas,
as rodas de samba
com as nossas
sambistas loucas;

Como se realmente
tivesse ligação
umas com as outras.

coisa antiga rs

(09 de janeiro de 2013)

Queria namorar o português e sua grandeza como é..
amar tua alma e saciar minhas aspirações!
Para eu brincar com palavras, poesias e canções
o que brinco num brinquedo duma praça qualquer!

não quero falar

(09 de janeiro de 2013)

não quero falar do que me provoca teu beijo,
o meu te ver, o teu sabor..
eu até amaria, ousaria rimar!
não, não quero falar, pois talvez me esqueço
de você, meu amor,
que já é poesia, que me ensina a amar!

seamus

(15 de dezembro de 2012)

vem, meu bem, eu quero que me siga
eu quero compor sobre a tua vida,
sobre o seu sorrir, eu amaria
poder escrever sobre seu amor,
sobre sua rotina, sobre suas delicias
o que voce ama, do que voce sorriria
sobre o seu acordar, sobre o seu bom dia
ah o dia, se viesse o dia
que espero e quero todo dia
que eu poderia caçar limas
para seu café da tarde
é tão linda essa menina a tarde
e a tardezinha ao deitar na rede
como eu faria pra matar minha sede
de te balançar suavemente
de te beijar inocentemente
só por amor..

quero escrever sobre o teu rosto
te pintar sobre o teu corpo
te amar sobre teus juízos
me encantar com teus suspiros
ah, seu suspiros,
imagino o que seriam se já os seus sorrisos são as canções mais belas da humanidade
se só a tua voz é a mais perfeita dessa cidade
sorria para mim, pegue minha mão
fujamos para onde não haja sim nem não
onde não haja aflição, só o amor, um violão
carambola, acerola, paz e um rio logo ali
só nosso, turvo e calmo, p'ra gente se divertir..

então venha, me disponho a ti,
meu coração, decidi, ele é teu, resolvi
lhe amar e pra mim
isso basta, não tem fim
we will be, so happy you and me
and no one there to tell us what to do
essa paixão cá dentro aqui
tem força suficiente pra construir
um novo éden para ti
um infinto jardim para lhe servir
as mais belas frutas de caqui
e os mais belos vinhos de Altemir

falarei ainda, um dia, à  tua graça
declararei ainda que me custe o nome na praça
o nome na roda dos adjetivos de ma fé
mas de que valem esses pejorativos comparados ao que você é?
de que vale eu me resguardar se escrevo sobre você? pois é
se ouso escrever, ouso ler, me atrevo a te conquistar
custe o que custar, pois me custa me apaixonar
me custa me embriagar, custe o que custar

o amor a se construir

(29 de novembro de 2012)

e ele insiste em pular em frente a carros,
sempre os mesmos e atropelado de novo,
desiludido e um pouco abalado pelo seu destino
que insiste sempre nisso e me dá nos nervos isso de pular em frente aos mesmos carros
é um desespero construído pelos próprios calos ainda não calejados, e sofre de novo


tão novo mas tão sofrido

novo para o novo de novo

(26 de novembro de 2012)

um pileque que faça dormir no fundo do sótão
um cheque de vida que haja fundo pra cobrir a dívida do órfão
pequeno, breve e recém órfão
irmão do desdém, ao relento da neve que desce lenta como a prece
do principe precioso a si de um abraço do esquecimento
que pede receoso de ti mesmo acolhimento no seio do desprezo
principe jogado, humilhado e sozinho
principe de tua fortaleza que para a realeza de fato não há beleza nos trapos
de tua alma solitária e em teu reino a hilária e cínica solidão
maltrata e destina como e para onde queres
a emoção da alma e de teu pobre coração
e o órfão de si mesmo,
como o principe a seu respeito resguarda-se em teu leito, em teu peito
em teu devaneio, em teu medo, em teu espelho, em si mesmo
o órfão de si mesmo
atordoado pela calmaria furiosa que ecoa em sua prosa
quando declamada a respeitosa poesia aos camaradas
cheirosas como rosas mas com espinhos acompanhados
os poemas do órfão tem seus versos encharcados
de rancor, órfão do amor, de ti mesmo, seja o que for
sejais sempre órfão para a eternindade que na realidade
torce para que acabe, sabe que o abate deste terror
morre instantaneamente quando palpita o sangue junto a algum novo amor

a moradia (!) da paixão é a revolução(!)

(26 de agosto de 2012)

aquilo que há tempos foi tão grande e que tais tempos o fez distante
renasce numa noite, única noite, em que as estrelas ardiam revolução
e a moradia retumbava tão intensa em corações vários que ali adormeciam
e a paixão pulsava tão intensa num coração que se apertava mais pela conversa daqueles que há muito, assim, não se viam
uma conversa deles que se fazia nutrida da terra como leito a qual lutavam e de discurso às estrelas e às constelações;
talvez depois daquela noite estas se farão revolucionárias se alguém ousasse roubar-lhe o céu e suas imensidões..
e elas lá em cima exaltavam tanto o calor que sentia dos mais sinceros dizeres!
talvez , os dois, assim, jamais se viu; talvez por isso as contemplações que jamais sentiu

18 de julho

(18 de julho de 2012)

e foi há pouco..
e já sinto uma eternidade
e agora, na verdade
já passou tanto tempo
por tanto pensamento me acompanhar
e a rua me parece tão intensa
e a lua não mereceu a minha presença
ela não apareceu para me consolar
nem ela..
andando e pensando em parar
e sentar num gramado,
que ironia, flores tão rosas,
um frio tão típico dos dias desse julho amargo
me lembra tanto de coisas nossas
uma música que é tão nossa, tão alto...
me lembra tanto de como te amo
e eis que estamos
nos amando e distanciamos
um ao outro ao leu destino dos ventos;
que devem estar sempre tristes,
por correrem tão intensos
em busca de algo que por toda existência nunca encontraram..
tristes estamos nós, que em todo mundo,
sentados e calados
engolimos simultaneamente mágoas e soluços sufocados
por desilusão, alguns
solidão, outros
outros apenas por muito amor...
e me acompanha também a tão estimada embriaguês
tão esperada pelos ansiosos que se iludiam
que iriam sorrir sinceramente depois de alguns naufrágios e viam
que só lhes estava destinado, de fato
a amargura dos copos vazios que lhes encharcavam malstratos..
e é tão sinuosa minha cabeça
e tão dolorosas minhas lembranças
e tão lamuriosas essas minhas linhas me perdendo em lamentações mundanas
os desesperados apaixonados! (sic)
e os bebados sufocados! (sic)
de que valem para mim?
se o fato de eu estar assim tivesse alguma ligação, enfim..
não me perdi
e só penso em ti
pra variar
e escrevo a ti
pra variar..
e escrevo sobre ti,
pra variar...
não me julgues um imbecil desiludido, solitário,
como tantos foram
quando tantas vezes escreveram dores de traições
de romances, de paixões,
aqueles penosos poemas de lamentações
estes são tão chatos
e já mastigados
dos tradicionais insuportáveis angustiados..
me perdoe se por essas bandas tive andado com minhas palavras
e minhas queixas não se passaram de queixas já faladas
reditas e perdidas no vasto porão literário das tristezas da humanidade..
mas acontece que não sei expor
e isso dói, amor
e você sabe...
e vejo na escrita uma forma de desanuviar a dor
que você sabe que sinto..
exclamo que te amo, amor!
não estou, por essas confissões na verdade já confessadas
suplicando a qualquer preço
as nossas intensas noites passadas
de volta
me arrastando aos seus pés
e clamando emaranharmos e nos arranharmos em sua cama
de volta,
como se fosse tudo novo de novo;
não estou, apesar de saber que poderia estar
se fosse o caso..
eu me entregaria,
me entreguei o tanto que pudia
ao destino sem destino que tinha o nosso amor..
eu me entregaria de corpo e alma
à mútua complacência, reciprocidade
à intensa intimidade
que na realidade
é o que mais me aquece,
me sacia e me engrandece
de verdade..
me entreguei a ti
e sei que te entregaste a mim
e assim, a gente se amou,
durante meses sem fim
mas veio o fim
quando, talvez, te sufoquei
quando, talvez, te agarrei
e supliquei um mergulho na imensidão de nós dois
de somente nós dois...
te entendo do fundo do coração
reconheço o que me falou
sei intimamente do que sentiu quando em algum momento repensou
o que pensou conseguir
por mim
e sei como é não conseguir
porque também não consegui
mas vivi, tentando e conseguindo
por infinitos dias lindos
os seus sorrisos, nossos sorrisos..
dói, meu amor
saber de tudo,
mas doeria mais não saber de nada
ou saber que nos perdemos às custas de nada..
mas não quero aceitar(!!)
não me vejo aceitar
por te amar!
me vejo sonhar com outras tantas novas músicas que poderíamos cantar,
e tantos novos quadros que poderíamos pintar!..
desculpe se isso negativamente te atinge
como se fosse de minha parte alguma pressão;
mas me aflige o sliêncio do meu peito
e, permanecê-lo assim, calado em teu leito
seria tornar isso tudo que sinto em vão..
dói, o amor
e o que seria o amor sem essa dor?
mas dói, realmente dói
não adianta gritar que quero você
ou me privar e nunca mais te ver..
mas dói, realmente dói
esse terrível não saber o que fazer..
Me resta o que, portanto?
levantar e ir embora, pra casa,
ou continuar, em meio ao perfume de flores de julho,
sentado, cantando, escrevendo e chorando?

lua e amanda

(04 de julho de 2012)

amando a lua e a amanda
amando a rua por onde anda
na cidade das luzes e da noite
amando a escura iluminada noite

namorando e amando as duas
amando a fantasia da loucura
das peças de teatros noturnas
peças amáveis!

amáveis peças que tramamos cantando e enlouquecendo sob canções de amor da lua,
canções amáveis!

e a lua nos namora
é tudo muito azul escuro e claro por volta
do nosso amor,
amanda

e o nosso amor amanda,
lua
não é uma flor,
um delírio de perfume, amor?

mas que cheirosa noite embriagada
de vibrante luz amarelada
de lua bonita e encantada
de amar amanda a lua o tudo e o nada e
é tão vago e triste tentar se limitar...
se amar a lua e amanda
é expandir e simplesmente amar!

me banhe de tua volúpia brilhante
escaldante e impetuosa,
oh, meu amor lua!

me banhe de tuas maravilhas impares, apaixonantes e sinuosas,
oh, meu amor amanda!

e sigo amando esse amor e esse ode à nossa noite,
para sempre infinita
para sempre inacabada
para sempre amada!

[e me indaga, com um ar afetuoso e apaixonado, a lua:
 - qual é a diferença de amada pra amanda?
 - um "n" de nada!
e logo lhe rogo carícias desde cá debaixo, pensando como seria poder tê-la não só a noite, como nas tardes também, enaltecendo minhas graças com aquela bela e fantástica apresentação nos céus ao dividi-los com a imagem do Sol, tão branca, clara e em sintonia com a imensidão azul borrada pelas espumas brancas flutuantes das nuvens;
e me apaixono mais com a lua; me inspira, me contagia!
e logo volto minhas atenções e meu olhar a estas palavras, que estão aqui, clamando que eu continue desvelando-as, lentamente, namorando-as espontaneamente! Exorando-me demasiada atenção e paixão natural!]

tua frança em todos nós

(03 de julho de 2012)


Qual era a França de Rimbaud?
Não era exatamente a mesma França de todos ao seu tempo,
todos precedentes e mesmo seus sucessores?
Tuas idolatrias não são religiosamente as mesmas?
Qual era a diferença dos Gauleses aos Robespierres?
Qual ócio e vício não são representações máximas da natureza humana?
Qual espetacular ironia não é cristal na geleira da alma?
Qual cristão não tem Deus morto em ti próprio?
Qual determinado senhor dos bons costumes não tem um gritante homossexual e uma ninfomaníaca prostituta libertinos, obcecados, maltratados e histéricos em seus testículos, que, ainda algum dia, em razão de um estímulo sem precedentes, gritarão e por tua uretra haverão de sair, expandindo, dilatando, fazendo sangrar tuas tolas e impuras repressões, o que causará uma dor inestimável, sentido súbtas queimaduras - mas por isso extrapolando tuas paranoias e tornando-o amavelmente humano?
Qual é a França de Sarkozy diferente da França de Rimbaud?
Não é a mesma França da humanidade, como o Brasil, da humanidade?
Qual é, portanto, a humanidade da humanidade?
Não é a imensa massa de vivos e mortos, estes sob os mais afáveis e carinhosos cuidados da lembrança humana - tendo tua gloriosa existência consagrada pelo grandioso pensamento humano - e que, massa essa de vivos e mortos, torna-se encarcerada por minúsculas jaulas deste pensamento humano?
Não é, este pensamento humano, grandioso? Ao ponto de criar, entender e se habituar ao passado e ao futuro? Ao ponto de entender, sob seus próprios cuidados, suas próprias faculdades e de uma maneira "bem pessoal" - entender o tempo?
Qual é, então, as causas dos reflexos débeis da humanidade em insistir na trava da contínua expansão?
São tão tolos aqueles que acreditam ser tolos e abomináveis os nossos Rimbauds!
Tão tolos por serem, nessas circunstâncias, eles próprios, Rimbauds!

objetivas - da angústia do tempo e espaço

(28 de junho de 2012)


o tempo recusou-me dar explicações,
segue vasto me envolvendo
e sigo baixo respondendo
a mim mesmo
como é tolo ao espaço procurar atalho
ou morada, esconderijo
e afirmo o perigo desse abrigo
é infinito, e o que seria a unidade?
o que seria a limitação?
idade, morte, num vão delírio da sorte
e a sorte? a que destino se atina
existe rotina? e não é rotina
essa perturbação numa alma que transpira vida
que flutua o pensar e o pesar
de viver e tentar entender
o que é ser, o que é estar?
e se está, está onde,
e onde está o fim do horizonte?
é vasto e segue me envolvendo
e me trazendo tormento;
e se é incomensurável,
questiona portanto o porque da medida
aflita um tanto a cabeça tremida,

sente-se instável;

e contrái-se;

até que grita
até queimar a retina
dos olhos dos grandes irmãos;
e outros pensares retraem-se:

prendam-na!
ao sanatório!

e a aflição perpetua como uma máxima voz
o vão espaço-infinito-tempo
majestosamente continua sendo atroz!
se matar
ou se maltratar
e continuar no desespero que aflige;
continuar?
a continuidade, existe?
vasto como o tempo é a tua filha, menina, a doce e inefável sandice
doce loucura..


amarga doçura

o sangue-seiva quente queima sangues brancos

(23 de junho de 2012)


um tiro branco na flexa
um sangue quente xamanico
escorre do canto na terra
morre o canto no pantano
o canto que saudava
agora geme
um arbusto chora
e treme o galho seco
e a mata
em uníssono
transimitindo a percepção da dor
tal como o antigo canto enraizava
alardindo aos seus semelhantes
tal como o antigo canto enfumaçava
a lamentação é a tua seiva generalizada
faz ser de boa visão à tua mãe o cortejo de tua história assassinada
e o fúnebre velório é a sombra densa provocada pelas árvores enxarcadas
e geme
um tiro branco disparado pela história que estudou os pontos cardeais
um tiro santo fundado na glória de um deus de tão longe que atravessou o oceano em caravelas reais
o olho fechado é de morte, não mais de compreensão
mas a fumaça ainda se espalha
a argyreia ainda se porta como porta da muralha da sabedoria e da história
o san pedro tem seus espinhos para os vinhos que vinham dos mares confrontar seus caminhos
a sabedoria chora
mas se renova
o xamã sangrou naquele dia
e gemia a natureza naquele dia
mas permanecia a natureza a contemplar teus entusiastas
e a vos enraizar em suas matas
retorna o bixo homem à terra em forma de lágrimas
enxugadas pelas raízes das plantas
sugadas pelas terras úmidas próximas dos rios turvos
sem sentidos, cego, surdo e mudo, morto da matéria
retorna o bixo homem à realização da terra como adubo
(21 de junho de 2012)

E repetiu tua predestinação: INVOQUE-ME!
E tua constante: LEMBRE-TE DE MIM!

hobbes

(04 de junho de 2012)

não me venha dizer que o homem já nasce matando o outro
que o leão abatido por dia é a fria impureza do espírito
não me venha com o papo de ódio inerente ao faro da gente
o lobo se rosna ele rosna de fora trazendo a disputa que sente
se sente o lobo o homem e se sente inimigo de seu inimigo em potencial
julga portanto a postura alheia como imperfeição e semeia uma eventual
natureza que agora até corre no sangue da gente que escorre levando o mal
mal que existe de fora pra dentro pela imperfeição de todo animal
imperfeição ou exclusividade de todo homem que é vivo e não é igual
na verdade a nenhum outro bixo que pensa igual mas tem outro sinal
paredes pintadas em cada morada são tão diferentes
marés se chocam naturalmente na cabeça da gente
se a própria morada é a mente e existe mais do que cê pense
e o que alaga é a metáfora que nos faz diferente
porque cada cabeça é uma corrente
cada cabeça é uma corrente
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
e porque cada corrente bate de frente
(com outra)
bate de frente mas água mistura
lobo se bate ele morde e fura
água mistura corrente com rio com mar e com chuva
água de cheiro, quente ou gelada é água e isso não muda
água
água!
é água e isso não muda!
água
água!
é água e isso não muda!
a cabeça muda quando não tá muda e a cabeça mudar é se elevar
o lobo não existe em cabeça que muda e aceita a outra cabeça mudar

o bip dos 7 minutos, o sábio dos gritos mudos

(04 de junho de 2012)

7 minutos para o início
aguardando...
recolocando:
7 minutos para os ultimos preparativos
ti ti ti
por que esse não é o som permanente?
é tão conciso com as preocupações
é tão inerente ao diálogo eterno
é conflituoso como recordações
recordar é a magia do sábio Sebastião
dizem até que ele um dia gritou à sua família
"a vida é a busca pela alegria, minha filha
procure ser vitoriosa um dia"
recordar é uma magia que Sebastião não resguarda
por outro lado, compartilha e explica
que antigamente a gente fazia poesia
em papéis guardados que a polícia não via
ou não podia ver
é, Sebastião recorda que não havia TV
que não existia cores em fotos
que os fatos eram da fé e os olhos
que ela tinha vigiavam você..
Sábio Sebastião profetiza os novos tempos
tão mudados que mal podem trazer ventos
frios ou quentes, mas que arrepiassem as dorsais dos desatentos
que brincam como imbecis, bilhar, baralhos, fomes e tentos..
brilhando teus olhos ganâncias atentas
mas fatalmente esfriadas por fazerem tormentas
as utopias brilhantes que embaralhavam remendas
imbecis e viciados na antiga era
sem tempo e sem dinheiro para ouvir o sábio profeta...
que trás auroras e atenções às impurezas
cauterizando mas não curando suas fraquezas
o sábio profeta e visionario Sebastião diz que o que trás é novo
de novo mais um tolo que afirma nova sina pra curar o desconsolo?
novamente mais uma gente acreditando veemente em um bêbado da rua oito?
"não desanima
pois nessa vila
o necrotério
o bar e o mistério que um sábio precisa ter como dor de vida
são proximidades à rua dita"
Sebastião mal sabe que o que sabe é saber de coisas
Sebastião mal vale uma vida ao destino traçado das coisas
O sábio de memórias só recorda e mais nada é magia
pra frente da gente o sábio se embriaga e sente medo da luz do dia
todos os dias sábios se matam por preferirem a vida à melancolia
todas as noites sábios se embrigam por confundirem selvagem com selvageria
mais três minutos, querida...
só mais esses minutos para descobrir o que lhe faz menina
o que faz minuto uns segundos
e o homem os muros
só mais um muro a construir, retenha-se
só mais um sábio a cair, entenda se cair ao desmaiar
ou cair a se matar
entenda
nasce um sábio a cada bip do som original
bebe um bêbado a cada sábio profetizando teu sinal
bebe um sábio confundindo ser sábio por sinal
um sábio bêbado bebe e brada teu juízo final
esses segundos que nos restam
nos prestam homenagens...
homens selvagens domesticados às florestas de matos desenhados
como é tão perfeito o desenho imperfeito de um sábio, que grita e continua calado?
chegou ao fim, querida
a luz do fim não veio, enfim
esperávamos por isso mesmo, não era?
ou acreditávamos em Sebastião
depressivo beberrão,
condenado à querela e fissurado por ela?
pegue tua solitária cápsula
se mate também, pois me entrego ao bel prazer da incerteza que conforta meu adormecer
morrer pra não angustiar outro amanhecer

e se a abelha não suportar?

(22 de maio de 2012)

e a abelha tem medo do mel esbanjado; tem medo dele lhe lambusar a ponto de sufocar-te; ela compreende que, ainda, não está apta ao incrível e misterioso doce que porvirá desses rios e mares e mel, que já se anunciam no horizonte; ela diz estar com medo de chorar quando for momento de gozar; mas ela diz, ainda, estar determinada em, a princípio, ir de brutal encontro à maré engasgadora e violenta que se aproxima; essa força que tem potencial suficiente para vencê-la, fazê-la asfixiada, diz a própria abelha que tem, na sua mais perfeita natureza, um doce tão saboroso; e por isso, mesmo não confiante, a abelha porta-se determinada em lutar por gozar desse doce quando, enfim, vitoriosa por teu triunfante e potente amadurecimento, puder libertar teu pequeno-corpo, tuas asas, tuas antenas e tua alma à livre disposição e destino dessa vertiginosa correnteza de mel, para viver maravilhas adoçando teu encanto, cantando o amor da densa corrente melada, libertando e sendo libertada, amando e sendo amada...

a selva cinza de cimento surta (e mata)

(21 de maio de 2012)

a selva cinza de cimento surta
a selva cinza de cimento surta
e essa sina de selvageria pira
selvagens macacos robotizados nos cipós de alta tensão
aguardando parados e estacionados, alucinados e
altamente preocupados nos faróis de solidão
na construção daquela vida que se faz em preto e cinza em cimento e em labor
morrem e labutam repentinos os macacos iludidos construindo o terror
certifique-se e edifique se uma árvore ainda repousa o verde na paisagem
sele, aprove ou reprove mas não pense que resolve, o destino é a modelagem
das estruturas determinadas e cristalizadas no inóculo da ferida viva desse abestado
adestrado e castrado pelo estado de impureza do cinza que a natureza fez colorir
é de rir, o verde lindo e vivo verde ironicamente acizentado e acimentado, é de rir
ou de chorar? ou de ousar?
Ou de ousar? P de pensar?
Ou p de pirar?

e essa sina de selvageria pira
e essa sina de selvageria pira
e essa selva cinza de cimento surta
essa maldita selva cinza de cimento surta
esbanjando lástima e sonhos podres
sonhos apodrecidos
mortos desaparecidos
e aparecidas investidas em sonhos empreendidos ditos como virtudes de vida
e desfilam os sonhos triunfantes na sapucaí alarmante da tristeza e da incerteza
e trajam máscaras de solidão e de apreensão na procissão que marcha subindo a afonso pena
impuras almas que desfilam no cortejo fúnebre se anunciam com fantasias negras
e a certeza de que a afonso pena é um gigante campo de exterminio cresce e deixa forte a fraqueza

a alma fraca clama aceitação
o peito podre respiração
o gás carbonico investimento na rotina do sofrido pulmão que eternamente serão sócios
e o ócio clama esteriótipo de vagabundo por não cheirar o gás imundo que nasceu desses negócios

e o surto desse pulmão é a razão desse clamor que grita, chora e apavora o teu fôlego pirado
e essa sina de selvageria pira mesmo
e essa selva de cimento cinza surta mesmo
e o futuro incerto e inseguro se apresenta ao esmo
dói a dor que finca a cuca e que perfura o peito

dói, enfim, o amarelo da bondade,
assassinado por asfixia nos porões a céu aberto
do hiper-centro dessa cidade