domingo, 13 de outubro de 2013

eu

(01 de abril de 2013)

tenho vários,
várias, tudo, todas,
todos, meus, eles,
elas, os desenhos,
as prosas, as conversas,
as variações, as invenções,
as conquistas, as glórias,
as tristezas, memórias;

tenho os aviões, as guerras,
sangues, os furacões,
tenho a mim, tenho as vidas,
tenho trocados, os Estados,
os tratados e os pecados,
os requintes, os venenos,
os penosos, os serenos,
os lutadores, as guerreiras,
as espadas, dragões,
os castelos, príncipes
e as princesas rebeldes;

tenho as consciências,
as consequências, as ciências,
as filhas dos generais,
dos delegados e dos fazendeiros;
os irmãos, os primos,
as primas, as primeiras,
as últimas, os primeiros amores,
os amores, as amoras,
as flores e as florestas,
tenho as cartas, as aspirações,
as paixões, nuances, os perfumes,
os relatos, os retratos,
as físicas, biologias e químicas;

tenho os mistérios,
os véus, os lençóis,
as praias e os menores do centro da cidade,
tenho os laços,
tenho os meus braços,
os meus dedos,
meus músculos, minhas veias,
meus instintos de animal,
minhas fomes, destruições,
alucinações e manias de perseguições,
tenho minhas orelhas, meus olhos,
meu corpo, minhas objeções;

as políticas, os estreantes,
os errantes, os errados,
os corretos e os manipulados,
as estruturas, as máquinas,
as modernidades, as estações,
os acontecimentos,
tenho os cemitérios,
tenho os carnavais, os quintais,
as casas, sobradinhos e mansões,
tenho as mães, tenho as saudades,
tenho as línguas, as estrelas,
tenho as sereias,
os cantos e os encantos,
os encantados, os envenenados,
os corredores, apostadores
e os infratores;

tenho os direitos, as forças,
as forcas, as igrejas,
religiões, as índias,
caravelas, os mares,
as novas terras,
os urros dos escravos,
os oceanos e os monstros,
os demônios, os deuses,
os paraísos e os infernos,
tenho as  meninas,
os meninos, os lares
e as ruas, praças,
cidades, nações
e culturas;

tenho as firulas,
os charmes, as respostas,
tenho as suas respostas,
as suas indagações,
as suas vibrações
as suas paixões
as suas emoções
as suas insistentes conclusões
e ações,
tenho as suas costas,
suas pernas, suas mãos,
os pesos que recaem nessas suas costas,
tenho pena
tenho raiva
tenho pressa
tenho angústia
pretensão
ambição
sensibilidade
tenho tremores
flores, cheiros e sabores;

tenho horrores,
tenho cruzes, credos,
tenho as suas premissas,
tenho as suas vias,
tenho os seus errados e os seus certos,
as suas espreitadas na porta um pouco aberta,
as suas espiadas na fechadura,
as suas escapadas em fitadas da sua janela,
as suas entreolhadas nas festas,
tenho as suas astúcias
tenho as minhas fraquezas
tenho nossos encontros
tenho nossos desencantos
tenho nossos telefones
tenho nossos contatos
tenho nossos amigos
tenho nossos retalhos
nossos retratos
tenho os restos de acordos fechados
tenho portas fechadas
tenho céus imensos
tenho seus sensos
tenho meus pensamentos;

tenho, no fim
tão longe e retumbante quanto o verbo ter
mesmo sendo o quão longe esse no fim,
tenho a mim
tenho o amor, pávido, universal,
multilateral e imenso,
tenho o amor a mim
enfim, tenho eu,
e tudo que se realiza
em torno do esplendoroso certeiro da existência
e de única condição de conjugação do verbo ter,
tenho a mim!

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