domingo, 13 de outubro de 2013

Ao filho que se matou

(08 de junho de 2013)

me sangra a esperança,
me aperta a ferida que não tem cura,
me agoniza a dor que me afinca dura,
que não é branda, que não estanca,
que sufoca o ar em minhas preces,
que me queima e arde à flor da pele...

em minh'alma crua,
um vazio imenso
me afunda no desalento de lhe caçar;
me aperto e tento
te buscar o tanto quanto eu puder tentar,
onde quer que penso que ainda possa estar...

Ah, me enlouquece
o fato de saber
que não vai voltar,
não mais me conforta
tentar lembrar
dos abraços que você
vinha me dar,
me beijar, me olhar
e dizer "Mamãe,
como você está?
Mamãe, o que tem pro jantar?
Mãe, feliz dias das mães,
eu te amo, mãe",
na sala de estar..

Mas dói,
isso tudo me dói,
minh'alma em prantos
nos cantos da sala
busca tua presença,
busca evitar a barra
que passo em tantos
sonos perdidos
por tua ausência...

Se perdestes na imensidão
da vida em tua vida,
onde até a morte cabe,
e onde aos vivos
cabe a despedida,
do filho que vai
e a mãe fica, aflita,
perdida, desnorteada,
sofrida, angustiada,
sem vida...
Perdestes nossa vida!

Pedaço arrancado,
litígio apertado,
trauma plantado!
Estrangulado, o pescoço
palpita apertado
o sangue engasgado
em mim!

Sufocado o meu parto,
sucumbido no ato
do filho enforcado!
E na dor do vazio,
o retrato sem brilho,
infortunas o frio...
em mim!

Oh, meu filho adorado,
nascido e criado
com amor e cuidado,
torço que abra a porta
e que me abrace de volta,
que me leve p'ra fora
dessa escuridão;

Mas meu peito rouco
trêmulo, louco
me destinas agora
o retorno à morta
certeza de morte
de teu clarão!..

Meu filho, morto,
Ao menos, aos poucos,
voltes de volta,
me chames agora,
meu ventre chora
por solidão!

Retornes,
espero, eu quero,
desejo, aperto
meu peito,
teu leito, vazio,
me mata a razão!

Meu filho, eu te amo!...

Não!.. Não...

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