domingo, 13 de outubro de 2013

do escritório II

(06 de setembro de 2013)

E o céu cinza era visto,
pela porta aberta
fugia da detenção
que se fazia em uma
sala trancada;

O céu
aproveitara a deixa
para fitar-me, imenso
frio, inspirador,
maravilhoso e nostálgico
lá por fora,
entretanto tímido,
num canto limitador
estreito e pequeno
por detrás da porta;

mas era o suficiente!
O Céu envolvente
me envolvia e me vibrava,

vê-lo todo assim, p'ra mim,
da mesa em que eu estava
posta frente à porta
entre-aberta para o escape
da prisão como rotina
- Minha maldita sala! -,
evolava maviosamente minh'alma,
feito um sorriso levantado
no canto de boca de um apaixonado
bem no instante que vê tua amada;

e fostes um borbulhar minha manhã
de bem-vindouras inspirações
pelo deleite da deixa eventual
que me surgia rente à tranquilidade
que repousava na distante imagem
do horizonte acinzentado matinal;

e fostes um alvoroço,
rebuliços instantâneos!
mas não tão intensos,
devido ao sonolento ritmo
que inda cambaleava minha
existência no nascer da manhã;

devido à inda virgindade
do retomar a vida da alma
e começar a viver no novo dia,
tais embrulhadas sinuosas
eram apenas serenes alegrias
e encantos com o dia que nascia
sob o céu, pintado de cores sóbrias
e até sombrias derivadas do cinza;

Ah, me entupia de afetos a cuca!
Me sentia um poeta a alguma altura,
seja qual fosse, de quem fosse!

Era uma sensibilidade sem fim!

Mas, cruel e amargamente,
o (en)canto estreito e divino
encontrado pela porta aberta
fostes sumariamente fechado,
selado, trancado;

Ouviu-se o fechar da porta,
viu-se o cinza da maçaneta trancar
o cinza do céu lá fora;

[Trancavam-me em (ao) meu labor!]

E o horizonte que se despia
e se fazia em possibilidades
de novas poesias
que viriam se entranhar
na alma do poeta, agora,
em um desmanche fúnebre
havia sido assassinado
e deixado órfãs
todas as tuas volúpias matutinas,
ao descuido e descaso
do acaso perdido;

E fostes de repetente,
num instante, de supetão
que mataram tua alegria,
que cortaram o laço
entre o poeta e a vida.

Selastes a morte da vida.
Afinal, poetas morrem e renascem
todos os dias.
O que é o poeta a não ser uma luz
em serviço de suas inspirações?
O que é uma luz a não ser um feixe sinistro,
imponente, conhecido, necessário e misterioso,
mas passível de ter tua dispersão luminosa
retida ao ter em teu caminho um obstáculo,
qualquer que este seja, qualquer este que fosse,
bastasse apenas que fosse um obstáculo?
E o que são inspirações,
a não ser quentura e claridade enternecedoras
de um feixe de luz, seja simples feito um fio
de luz que vaza numa fechadura duma porta cinza,
ou colossal e astrológico feito os raios solares,
mesmo escondidos por detrás de um céu cinza?
O que não são as inspirações dos poetas
a não ser o aquecer a alma de luzes vindas
de todos os cantos para todos os outros tantos cantos
que amaciam espírito e pele de nossa gente?

Sim,
selastes a morte da vida.
Selastes a morte do poeta.

E morriam
as aves que poderiam
surgir da paisagem que invadia
o escritório,
planando pela imaginação
que se fazia fértil para
inundações epidêmicas de flores
numa instantânea primavera;

morriam todas essas tramas e peças
pelas odiosas portas
que se fecharam e distanciaram
a inspiração da poesia
do dia morto do poeta.

E tornava-se, portanto,
morto o poeta:
trabalhando,
respirando,
se mordendo,
estapeando,
sobrevivendo,
revirando
os olhos mortos
de poeta.

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