quinta-feira, 27 de outubro de 2016

diga ao mundo que nasceu um poema!

Um verso em conjunto
com outro anexo
e um outro conexo
com um moribundo
já forma um poema
que seja profundo
e que valha a pena
mostrar para o mundo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

licença poética

Usei da licença poética
Pra achar que sou poeta
Que faço alguma poesia
sem noção de métrica
Ou de estrutura decacílaba
tendo lido na vida
De difícil, eu diria,
Só um do castro Alves
Mas que também eu lia
E quase nada entendia.

Não fosse a licença poética
Nem esse poema eu faria;
Mas dê licença, ela existe!
Por isso mais essa poesia.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

o samba e a lua

Diante deste palco,
Deste copo, nesta noite,
Diante do murmuro
Destas cordas, deste surdo;
A luz da Lua
Num sussurro
Instiga-me cruel;
De repente, inspiração,
Te dou asas num papel:

De Noel a Daniel,
A companheira mais fiel,
Das rodas, dos bambas,
Dos pagodes, do samba,
É a lua;
Quanta vitalidade,
Quanta cumplicidade a presença sua!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

aposto

Posto isto pois aposto que este aposto,
que aqui e assim está posto,
foi de propósito aqui exposto.
Aposto!!!

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Yemanjá e Oxum dos olhos teus

Te olhando entendi
Que para atingir
Alguns dos maiores
Deleites meus
- Banhar-me de praias,
Cachoeiras, cascatas,
Nas mais lindas águas
Que Deus nos deu,
Bastasse que entrasse
E que mergulhasse
No azul cristalino
Dos olhos teus.

terça-feira, 3 de maio de 2016

feito tentar pegar sabão debaixo d'água

Eu escrevia,
Fato;
Mas que absurdo,
Tuas coisas eu lia
E não entendia;
E sobre mim escrevia,
E eu não sentia;
Não sei,
Não me entendo,
Não compreendo
Como pude ser desatento
Ao momento de alguém que,
Em suas olorosas poesias,
Da forma mais linda
E apaixonante possível,
Incrivelmente poética
E impressionantemente sensível,
Me buscava, se entregava,
Me alçava e se despia,
Que hoje, ao relê-la,
Questiono-me com agonia
Porque não me joguei aos teus pés
suplicando tuas mãos;
Como não desejei
Tuas estrofes pulsantes
Na forma de insaciáveis olhos
Buscando-me pelo zoom de teus desejos;
Os teus versos
curtos e grossos
Na forma de dentes,
Os teus quereres e tuas vontades
Na forma de arrepio da pele sensível,
E tuas insinuações,
Tuas indiretas, ensejos,
Não mais em verbos,
Mas em hálito,
Não mais por estrofes,
Mas em ato,
Em tato,
Contato,
Pelas vias
Mais materiais
Pulsantes
E carnais
Possíveis!

Como pude?
Como pode?

E a vertigem daquele espelho consumiu-me por inteiro...

segunda-feira, 2 de maio de 2016

tudo que faço - interrupção 2 - some undesirable writings...

.

Não bastasse ter entrado espaçosa
Em minhas poesias
Fugindo do anonimato
Em que residia,
Havia de se refugiar agora
Em minha cabeça,
Em tudo que faço
No meu dia-a-dia?



***


.. So get out if you want stay but not stay!
You know It is something I wouldn't want to say
But, unfortunately, that's the way.

sábado, 16 de abril de 2016

permita-me os excessos

Permita-me os excessos,
As vontades talvez precipitadas,
As algumas demonstrações de ansiedade;
Isso porque eu sou assim:
Do intenso, do que flameja,
do que reivindica, do que atiça,
Do que requer, do que quer,
Mas que quer por inteiro,
Mas que quer pelos dentes que rangem,
Que quer pelas inspirações que surgem,
Que quer por infinitos momentos de confissão e entrega mútua;

Permita-me os excessos,
Mesmo esforçando-me não permiti-los a mim;
E mesmo esforçando-me não permiti-los a mim,
Não suporto abafá-los,
Escondê-los, retê-los,
Contraí-los;

Permita-me os excessos,
Que quando transbordam-se provocam-me
Silêncio, aparente incerteza,
Confusão ou introspectividade,
mas que, na realidade,
Por dentro é uma combustão de vontade
E de necessidade de você,
a amável e insaciável razão dele;

Permita-me o excesso.

quarta-feira, 2 de março de 2016

o primeiro auto-retrato

Serena como o abrir-se sem pressa
De uma flor em tua manhã da vida,
Ou como a ternura do oceano ao acariciar o continente
Com a tranquilidade eterna de suas ondas,
Deixou-lhe a imaginação germinar e brotar
No tempo certo de teu jardim;
E a tinta, ao pintar-lhe o auto-retrato,
Escorreu-lhe o corpo todo,
O óleo, não mais na tela, mas na perna,
Inundou-lhe de delírio e reticências,
E a essência de sua voz
Se desfez e fez-se desintegrada
Como fragrância de incontidos gemidos pelo ar...
E assim, entregue ao sabor da imaginação desatinada,
Desde o ouvido que arrepia
Até os dedos que desenham-lhe a perna trêmula,
Pintou-se a garota pela primeira vez.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Soneto da interrupção

Embora eu escreva, embora eu tente,
Embora eu sinta que você sente
(Não como eu, é evidente,
E nem o tanto o suficiente),

O mais sensato e consequente
É que eu a esqueça daqui pra frente;
De outro gostas avidamente,
Não há, portanto, o que una a gente.

Dessa forma, é o mais prudente
Fazer deste soneto (tão diferente...)
Minha despedida, já finalmente;

E assim, tão de repente,
Apesar dos pesares e infelizmente,
De ti me afasto... contrariamente.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O que me faz perdido por essa menina

O que me faz perdido por essa menina,
Embora ainda menina mas mulher mais ainda,
Que ser menina-mulher já me fascina?

Seriam, talvez, seus cabelos de cachoeira,
Que busco em seus cachos encontrar uma foz,
Um fim que enfim estivéssemos à sós?

O que me faz perdido por essa menina,

Seria tua voz, doce e inspirante voz,
Que canta com amor e doçura fulminante,
Que encanta e que lhe faz tão impressionante?

O que me faz perdido por essa menina,

Os detalhes de sua boca ou seu beijo ritmado,
Que beijado, bem beijado, é capaz de num instante
Transmitir-se subitâneo para um sonho delirante?

Ou seriam os teus olhos de samba acalentado,
Que não olham, mas cantam, que não vêm, mas dizem,
e que se vêm à mim me enlevo apaixonado?

O que me faz perdido por essa menina,

Que perco a linha e me descosturo fio a fio
E de pouco em pouco me desfaço enternecido
Pelo encanto de cada canto de tua alma;

Que por um toque já desfoca-me a visão,
Unho-me as mãos, sufoca a respiração,
Reviro-me por dentro e me embriago de tua calma?

O que me faz perdido por essa menina?

Ao encantamento teu coração pertence,
Mulher em flor, pois eis o que é;

O que me faz perdido por essa mulher?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Carta pública ao Senhor da Mineração

Carta pública destinada
Aos seguintes Senhores da Mineração:

Senhor Dono,
Senhor CEO,
Senhor Presidente,
Senhor Executivo,
Senhor Investidor,
Senhor Dirigente,

No intuito de melhorar
o comunicado de minha carta,
Resumir-vos-ei como "Senhor",
Substantivo que vos enquadra.

---

Senhor Doutor,
Vejo-lhe das bonanças farto,
Adquiridas por meio das
Extrações mais que lucrativas
Dos minérios de nossas terras,
montanhas, paisagens, serras,
Em instalações bem sucedidas
de gigantes e colossais minas,
Sem que se importe com as vidas
que diariamente vos ceifais
(Mas qual o que, tão banais!)
Para o acúmulo de suas cifras;

Vejo-lhe, Senhor Doutor,
Um Senhor Doutor de muito garbo,
sucesso, poder, tradição,
influência, propriedade, articulação,
Bem alinhado, afortunado,
De panos caros, elegantes sapatos,
casacos de couro, relógios de ouro,
Daqueles que nem os menos ricos que você
(Mas ainda muito ricos!)
Poderiam ter;
Vejo-lhe um homem raro,
Senhor Doutor,
Um homem raro de se ver;

Mas sei, e o senhor bem sabe,
e qualquer um sabe,
(até o mais ingênuo sabe),
Senhor Doutor,
Que este teu glamour,
Teu louvor,
Este teu império
De riqueza e horror
Foi construído e é sustentado
às custas do labor
Desenfreado e explorado
De teus pobres empregados,
Que esguelados trabalham
Abrindo minas sem pudor,
Dando-lhe lucros para que valham,
talvez um dia, um por cento 
do que Vale o Senhor;

E por isso, Senhor Doutor,
Já que não tens limites,
Que nós não valemos nada,
Que nossos corpos são descartáveis,
Que nossas serras são devastadas,
Com atento e delicado tato,
Senhor Doutor e Proprietário,
Fazer-me-ei com o teu corpo
O que fazes com a natureza,
O quanto sangra nossa riqueza
Com o tanto que extorque o nosso povo.

Cortarei tua pele na navalha
Em região determinada e demarcada
por estudos & pesquisas
previamente realizadas,
Para que, asseguradamente,
Minhas navalhas afiadas
(afiadas precavidamente!)
Não lhe deixem marcas
ou memoráveis traumas;

Dois.

Atendendo às regas,
legislações ambientais,
rasparei-lhe o osso
com instrumentos não-letais,
orientado por tratados,
convenções internacionais,
Sem me esquecer, é evidente,
das nossas leis estaduais;

Extraindo de seus ossos,
De pouco em pouco, o mel do lucro,
Cuidadosamente, conforme a lei,
Desvendar-lhe-ei, extraindo tudo,
Desde o mais fino corte
Até o mais fundo furo;

Venderei teu osso-bruto
Aos senhores do hemisfério norte,
E importaremos os seus produtos
Fabricados com teu osso-cobre;

Mas se acaso eu estourar
Alguma veia em algum lugar,
Inundando-lhe o corpo
De sangue quente, sangue morto,
Esfriando-lhe as pernas,
Engasgando-lhe a garganta
Com o destempero do desespero,
Garanto-lhe emergencialmente
(apenas isso e tão somente!)
Um juramento de alguns remorsos,
O choro falso dos meus gerentes,
Uma boa equipe de psicólogos,
E um pause (pause!)
com os meus negócios;

E o teu feitiço, a propósito,
Virar-te-á contra ti mesmo;
Te verás em desespero,
Estarás gritando em vão,
Lentamente morrerás
E contarei minha versão:
Um acidente, nada mais;
E assim aceitarão.

Pois assim é que o Senhor,
Senhor das Trevas, Senhor Doutor,
Imputa ao mundo a tua regra;
Em torno dela tudo gira,
Prefeituras, Senadores,
Presidentes, Governadores,
Em serviço da garantia
Do teu circo dos horrores.

Passada a comoção,
Com auxílio do Estado,
da imprensa, televisão,
O esquecimento de sua morte
Se dará em horário nobre;
Teu legado desmanchado,
(teus ossos esgotados!)
Já perdido, sem passado,
Nunca mais será lembrado.


E assim será tratado.



E assim é que há de ser.



E isso não é fábula.







Tal desfecho lhe resguarda a história,
Senhor Doutor de Honra e Glória.