domingo, 13 de outubro de 2013

ele vem e vai morto

(05 de maio de 2012)

ele sempre chega em casa na tarde clara
com seu trabalho em seu cansado rastro
que de marujo da rotina se arrastou pela calçada
se portando à batina como teu amado mastro

a bandeira da eufórica e morta vida da cidade
ergue-se como triunfo da conquista do vazio
o que enfinca a aste na vida como num abate
na morte do homem que sangra a sina como o bovino

faz-se a lamuria engolida de força de vontade
faz-se a cabeça entupida como o homem de caráter
e a cabeça vazia como o homem assíduo
e o que ousa enchê-la como mais um promíscuo

morre a bobeira de caçar limas e gozar da mocidade
a sobrevivência na cidade destrói como prédios angustiantes
e as inquientantes eminências de danos inimagináveis
trocam o perfume das hortências pelo perfume das madames

o carro corre e com ele corre a vivacidade das animalias
corre pra muito longe fugindo da selva de apreensão
deixa hoje grunhindo esse homem programado na solidão
que de tempos em tempos se mata e renasce em vão

e surge um cherio forte
um cheiro da maquina mental
de quemiado anunciando a morte
um cheiro abraçado com a dor da sorte
da fundação desse novo jornal
desse animal mal-escrito forte

tudo está no mesmo lugar
tudo esta sob a mesa, que beleza, é hora de jantar
tudo inclusive a mesma e antiga forma de cantar

tudo está ali como foi deixado
retorna o homem machucado de carro, berrando calado
e toma e serve café e jantar, com o saudoso desprezo acompanhado

assistindo como são beberrões os que acidentam as ruas
como são comilões os que sentem fome nas ruas
e como são traidores os que pixam as ruas
e como é angustiante saber que existem outros como ele nas ruas
gritando na porta da sua casa, morada que o separa das ruas
fazendo vossa vida, fazendo vossa rotina, sempre nas ruas

Nenhum comentário:

Postar um comentário