domingo, 13 de outubro de 2013

de brasília, quem sabe um dia

(02 de junho de 2013)

Entre,

deixe-me lhe apresentar tua filha em mim,
já que me apresentaste tuas filhas a mim.

Nasceste desorbitante e latente um útero em mim,
de ti.

Venha, danço contigo a dança eterna da juventude
que saltita em teus olhos.

Danço como nunca antes, juro-te,
hei de surpreender-te mais e mais, por ti.

E hei de envolver-te mais que meramente dançar,
o que amaste em mim.

E que líquido ardiloso, formigante e dormente
que escorrega desse útero corpo adentro e pernas abaixo aos pés em mim!

Fizeste de um vibrante e órfão coração em tua plenitude juvenil
um borbulhar jubiloso e inquieto.

A princípio, por tuas filhas.
Após, por ti.

A sensatez não intimidou.
A tradição não calou.

A moral não suprimiu.
Essa, passou longe.

O pecado, que bêbada insistiu em aluzir,
em ressaltar, eu sei que era apenas algo irrisório,

para ter algo no que se basear para negar o que sentíamos.
Nós sabemos.

O uísque, ah, o uísque,
o nosso uísque,

que nos envolveu como um lenço ao rosto macio de uma criança emocionada,
como o tango ao argentino mais fervorosamente apaixonado,

como o tirar das roupas de um casal
num determinado minúsculo quarto de hotel no interior da Espanha,

este uísque, que nos envolveu de tal modo,
escorreu como dilúvio de malte e bourbon paixão a dentro, tesão a fundo.

Fez-me úmido para que meu estribilho dos pot-pourri de boleros argentinos
fosse fecundado pelo teu desconhecido não-sei-o-quê.

Não-sei-o-quê!
Que me cativastes! Me apunhalastes!

Tua você em diálogo com tua idade?
Seria isso?..

Aliás, o meu observar-te a fundo,
vasculhar teus anos de vida, tua vida,

teu rosto lindo, cheirar teu perfume maduro...
Seria isso?

Sei que me cativastes e me apunhalastes...
E que me destruíste tanto...

Mas não me conheces.
Sou daquele que enaltece, que engrandece, que vibra, que saúda, que se apaixona...

Tua presença, a partir daí, me deteriora.
Me saboreio dos devaneios dos meus novos dias, dos meus novos olhares perdidos.

Da presença quente trançada pelos mantras dos uísques,
das danças, dos vinhos, das nossas idades,

perco-me na vastidão do não tê-las durante mais que aquelas poucas cinco ou seis horas...
Entre..

Entre!
Sim, quem sabe um dia...

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