segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

almejo

(trama para carnaval)
Na rua o cortejo
Na esquina o festejo
No festeiro o baculejo
Na alegria o bosquejo
Na memória o malfazejo
Na embriaguês o lampejo
No bem amado o realejo
No mal amado o pejo
Na casa no vilarejo
No banheiro o azulejo
Na roupa o percevejo
Na cama o sacolejo
No beijo o ensejo
No debruçar o gracejo
No apertar o relampejo
No entregar a andarejo
Na garganta o gorgolejo
No suor o rio Tejo
No seca-boca o grugulejo
No unha-carne o traquejo
Na trama-cama o sobejo
No treme-perna o bocejo
No poro-aberto o arejo...

domingo, 8 de dezembro de 2013

da trama praiana

Tá rolando churrasco lá em baixo
Cá em cima novela, no máximo;
Só que daqui, da varanda, fechado
Se busco novela não acho;
Se busco churrasco, lá em baixo,
Se faço poesia, faço:
Poesia sobre churrasco.

Cabo Frio, 08/12/2013

pernilongo

Pernilongo filho da puta
Que a mim meu sangue suga
Hei de matá-lo por dentro:
Meu sangue sendo a ti o veneno
Meu sangue queimando teu ventre
Meu soco que a ti de repente
Lhe subtrai a meu sangue somente.

Cabo Frio, 08/10/2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

a dialética

Ainda bem que existe a vida
para distrair da morte,
Que existe a vida
em contravenção à morte,
Que existe a vida,
o próprio invés da morte,
E pena que existe a vida
- quase - apenas para que se exista a morte,
E que exista a vida
para que depois só a morte exista;
Mas ainda bem que existe a vida
para que, antes da morte, viva.

domingo, 1 de dezembro de 2013

é que ela não tem meio termo

Os mortos hoje não têm hoje
o susto, o riso,
o retrato, o canto,
estão num canto,
num algum carregado
lugar, onde carregados
chegaram e hão de ficar
deitados, onde hão de
estar...

os mortos hoje não têm hoje
fome, frio,
apreensão, arrepio,
nome, apenas o nome
cravado num quarto
de quartzo, ou num
fraco corpo que treme
nalguma lembrança
esmaecida...

os mortos hoje não têm hoje
a sujeira, a lembrança,
as cartas, as seringas
e as filas e os suores,
as glândulas frias
de febre, os odores,
o sono e a companhia
para dormir...

os mortos hoje não têm hoje
o hoje, a garganta
o engasgo com a saliva
ou com a saudade,
a saliva e a saudade
propriamente ditas
o sangue quente nas gengivas,
a perna suja de poeira...

os mortos hoje não têm hoje
o próprio hoje
como a própria a vida,
os mortos hoje não têm hoje
nem a morte, nem nenhuma
certeza,
por isso a morte é a maior
tristeza,
por isso a morte é a maior ferida,
a eterna que dói em minha cabeça,
o eterno corte que não cicatriza,
o eterno tudo que não é vida...

os mortos hoje não têm hoje
e nem nunca terão mais