domingo, 13 de outubro de 2013

o romance humano

(23 de abril de 2012)

e eva disse: que comemos a maçã, que transemos agora, adão!
e saudou a cobra;
e um vinho tomaram e uvas comeram gozando a vida e o entender;
e de longe vinha um vento brilhante que podia se ver perfeitamente;
e o vento trouxe o brado do primeiro a se portar como eu e eu;
e trouxe o brado daquele que ousou não submeter-se à autoridade, pois da luz fazia-se rei e da própria vida podia fazer-se também;
e sentiram o peso das saudações do querubim caído;
e gozaram mais, adão, eva e a cobra, até a intrusão de algo extraordinário...


a voz de deus pode ser ouvida
por adão e por eva e foi sentida
ao cessar o prazer como uma ferida
espantados atentaram ao que dizia

jamais sacrifiquem o amor que lhes jurei
não atentem o meu humor que por pouco pode alterar
quero que entendam que fui eu que vos criei
não me atordoem que minha ira pode despertar

deus a minha revolta é sentida por mim e por ti também
tu me conheces, a mim e a minha história
não faça-te de besta, é tua a criação do mal e do bem
da minha euforia, como a da eva e da cobra

sinta minha pele arder, meu pulso tremer
meu coração bombear o sangue que me ferve
que queima tua bondade e que hoje me serve
deleitos macios de eva a gemer e gemer

és imortal mas não tens carne como nós
és perfieito e por isso não podes pecar
provar a vertigem com alguém a sós
sentir a energia mortal e dançar

dançar, a vida dançar
os prazeres dançar
se te atrais,
humano será,
as confusões terá
que causam mais
perturbações mas será

humano será
humano será

seduzido o menino da luz
contorcido em suas asas
delirado pela voz de eva
que poetizava o homem a deus

ousadia daquela mulher que bem firme encarava a imagem do senhor
não atacava a cegueira por ter transformado teu olhar em flor
e delicadamente o anjo assoprava o vento nas costas de adão
que se arrepiava com a flor da mulher e a nudez de tua imaginação

o vento pôs-se a rondar pelos cantos que deus habitava
e o titubeio do espírito santo fez desaguar suas estruturas
um rio se fez, molhando a cobra, do santo que agora chorava
toda a criação agora se desenhava em violentas águas turvas

emergia da lama avermelhada que borbulhava a pulsar
a imagem do anjo rebelde com cheiro de enchofre no ar
a luz que alumia os desejos de deus em sete cores fez-se fatal
o corpo alado surgia do reino da audácia mortal e amoral

do amor eterno jurado e passado podia já ver as ruínas
o inferno abalado pelo tremor do certo e errado já se desfasia
o homem adão voltou-se a eva e tomou-lhe a maçã que comia
jogou-as no chão, e trepou e comeu, fazendo valer a euforia

a nausea divina causou um tremor no seio do paraíso
as macieiras suavam tesão e choravam pelo arrepio
dos infinitos poros de deus que abertos provocavam frio
sentido rasgado na costela do anjo que sempre será teu filho

subitamente a gloria de deus transformou-se em gemido eterno
do criador da vida e da morte, do ceu e do fogo do inferno
o céu e o mar, o ar e a água transaram a luz e a escuridão
o pecado vestiu-se da beca divina e matou o que era perdão

aos beijos e arranhões eva e adão puderam ver o juízo final
ser narrado pelo amor e ódio que surgira do pecado carnal
em seus olhos e perente seus corpos nus a história se refez
deus maltratava o passado e o futuro por sentir do anjo a nudez

no toque, o choque, o trovão da existência anunciou
a ira com a rebeldia rimavam como nunca antes na vida
ao deus, ao homem e ao anjo a realidade se desaguou
pelo gozo de deus que provocara no paraíso uma intensa gritaria

o regojizo celestial era a morte do bem e do mal
o velho aeon sucumbido sob as terras irrigadas do mar do amor
fez bradar o super-homem a tua carne e teu corpo à morte do império do celestial
sem ditames o homem matou enfim a aspiração que lhe fazia insano
dos anjos, dos deuses, que não suportaram a dor do prazer humano

dos anjos,
dos deuses,
que não suportaram a dor do prazer humano!

e eva saudou a adão um brinde ao prazer humano;
e adão brindou com um sorriso humano;
e o vinho beberam, e deitaram e se amaram, se odiaram e viveram humanos.

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