sexta-feira, 13 de setembro de 2013

eles nos dão; nos damos a eles

(11 de março de 2012)

a vida para viver a dor
a fome para sentir no chão
o frio e para ter calor
a cola como seu colchão

eles nos dão, às nossas crianças

o futuro num maço de cigarro
o destino soprado num trago
no papel de 10, 10 reais do descaso
e como oferenda o assassinato

eles nos assassinam, às nossas crianças

a vida antes dela ser
o sorriso do amanhecer
a esperança, que trajava natural
a alegria, que deveria ser normal

mas eles nos dão, às nossas crianças

o sentir fome, o ódio
o sentir frio, o ódio
perder o nome, a vingança
o sentir vazio, a vingança

o ódio e a vingança, a morte
o deus morto no altar, a morte
o sorriso inquieto, o brado
na mesa de jantar, o alvo

eles nos dão, às nossas crianças

o alvo aqueles que vos sustentam
que se emocionam em romances
que se aprisionam das tormentas
nos jantares inquietantes

eles nos dão, ao nosso destino

aliás eles nos dão, o nosso destino
e ao destino, impõe nossa rotina
que nos tranca e faz-nos sentir receio
de nós, que engordamos nosso medo

eles nos dão, portanto, o medo

assim como nos dão a pátria
assim como nos dão a segurança
a nós por nós armados, reforçada
assim como nos estupram propagandas

eles nos estupram a cabeça

nos dão escolas com seus métodos
nos dão o curso do vazio puro
nos afogam na inércia de seus processos
transformam a luz num salão escuro

eles nos dão o escuro, quando podemos ter luz
eles atacam o cógnito, para que o néscio se reproduz

eles alvejam quem ousa, pois quem ousa pensa
portanto criam hospícios, televisões e cadeias

eles sabem, e têm medo dos livros
eles sabem o valor de seu perigo

eles têm armas e as dispõe à nós
nós temos cabeças, e dispomos a vós

somos nós, os demônios que nos perseguem
somos os bandidos, as polícias e os hereges
os pecadores da moral que nos impuseram
os loucos engasagados por seus remédios

a inserção de vossa matéria
bem ensinada na escola da vida
determina a nossa miséria
nosso sofrer, nossa batina

determinemos, pois
nosso próprio dia
nossa própria noite
nossa própria vida

ataquemos, então
aquilo que nos ataca
não conheçamos o perdão
enfiemos, a faca
em vosso peito, no coração

pra fazer cessar, enfim
esse eu contra você
você contra mim

essa batalha,
travada por nós,
por nós contra nós

pra fazer nascer, de uma vez por todas
a nossa vida, por nós orientada
a antiga ilusão cantada por aquela louca
que por nossa utopia foi fecundada

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