(11 de março de 2012)
a vida para viver a dor
a fome para sentir no chão
o frio e para ter calor
a cola como seu colchão
eles nos dão, às nossas crianças
o futuro num maço de cigarro
o destino soprado num trago
no papel de 10, 10 reais do descaso
e como oferenda o assassinato
eles nos assassinam, às nossas crianças
a vida antes dela ser
o sorriso do amanhecer
a esperança, que trajava natural
a alegria, que deveria ser normal
mas eles nos dão, às nossas crianças
o sentir fome, o ódio
o sentir frio, o ódio
perder o nome, a vingança
o sentir vazio, a vingança
o ódio e a vingança, a morte
o deus morto no altar, a morte
o sorriso inquieto, o brado
na mesa de jantar, o alvo
eles nos dão, às nossas crianças
o alvo aqueles que vos sustentam
que se emocionam em romances
que se aprisionam das tormentas
nos jantares inquietantes
eles nos dão, ao nosso destino
aliás eles nos dão, o nosso destino
e ao destino, impõe nossa rotina
que nos tranca e faz-nos sentir receio
de nós, que engordamos nosso medo
eles nos dão, portanto, o medo
assim como nos dão a pátria
assim como nos dão a segurança
a nós por nós armados, reforçada
assim como nos estupram propagandas
eles nos estupram a cabeça
nos dão escolas com seus métodos
nos dão o curso do vazio puro
nos afogam na inércia de seus processos
transformam a luz num salão escuro
eles nos dão o escuro, quando podemos ter luz
eles atacam o cógnito, para que o néscio se reproduz
eles alvejam quem ousa, pois quem ousa pensa
portanto criam hospícios, televisões e cadeias
eles sabem, e têm medo dos livros
eles sabem o valor de seu perigo
eles têm armas e as dispõe à nós
nós temos cabeças, e dispomos a vós
somos nós, os demônios que nos perseguem
somos os bandidos, as polícias e os hereges
os pecadores da moral que nos impuseram
os loucos engasagados por seus remédios
a inserção de vossa matéria
bem ensinada na escola da vida
determina a nossa miséria
nosso sofrer, nossa batina
determinemos, pois
nosso próprio dia
nossa própria noite
nossa própria vida
ataquemos, então
aquilo que nos ataca
não conheçamos o perdão
enfiemos, a faca
em vosso peito, no coração
pra fazer cessar, enfim
esse eu contra você
você contra mim
essa batalha,
travada por nós,
por nós contra nós
pra fazer nascer, de uma vez por todas
a nossa vida, por nós orientada
a antiga ilusão cantada por aquela louca
que por nossa utopia foi fecundada
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